O nosso craque deu uma entrevista ao jornal Record, a qual transcrevo aqui na integra:
O final da última época deixou marcas, mas já ficou para trás. O importante, agora, é olhar para o futuro e Matic aposta num ano recheado de sucesso. A saída é um cenário abordado com grandes cautelas pelo sérvio, de 25 anos, já que até acontecer há um sonho para concretizar: “ser campeão no Benfica”...
RECORD – Marcou ao Anderlecht mas antes já o tinha feito ao Sp Braga, no campeonato. Com esse golo, o Benfica venceu e pouco depois o FC Porto empatou com o Nacional. O campeonato não podia estar mais em aberto?
Matic – Sim, é um facto. Nesta altura está tudo em aberto. Mas o mais importante mesmo é que ganhámos o nosso jogo e frente a uma equipa difícil. O Sp. Braga costuma colocar sempre muitas dificuldades aos adversários, mas ficámos com os três pontos.
R – O que sentiu quando correu para os adeptos para celebrar o golo?
M – Uma felicidade imensa. Porque tinha a noção de que o jogo estava difícil para a nossa equipa e o golo surgiu numa altura importante. Mas confesso que no final a felicidade ainda foi maior. Porque vencemos um desafio difícil graças ao golo que marquei.
R – Considera que o mau início de temporada já está completamente ultrapassado e que, agora, a equipa se encontra numa fase muito mais positiva?
M – Sim, estamos num bom momento. Estamos muito melhores do que no início e as exibições também têm sido mais positivas. Mas acho normal. Chegaram muitos jogadores novos e é sempre necessário existir um período de adaptação às ideias da equipa. Agora, penso sinceramente que essa fase já está ultrapassada.
R – E por isso considera que o Benfica é nesta altura a melhor equipa do campeonato? O FC Porto, o grande rival dos últimos anos, parece atravessar uma fase menos positiva...
M – Estamos bem, a subir de rendimento e confiantes. Mas só no final é que se poderá dizer quem foi a melhor equipa. É sempre assim. No fim é que se fazem as contas. Não vale a pena falar disso até lá.
R – Esperava que o Sporting oferecesse uma réplica tão forte depois do que aconteceu na última temporada?
M – Sim, porque o Sporting é sempre uma boa equipa. Mas não penso nos rivais mais diretos, seja no Sporting ou no FC Porto. Só quero fazer o meu trabalho e ajudar o Benfica.
R – O Benfica parece uma equipa mais pragmática do que nos últimos anos. Ou seja, aposta sempre mais no resultado do que na exibição. Concorda?
M – É difícil responder. No ano passado jogámos muito bem, fizemos grandes exibições e ganhámos muitos jogos. É certo que este ano as coisas estão um pouco diferentes. Não apresentámos ainda o mesmo nível de jogo e não marcamos tantos golos. Mas o importante é ganhar e isso estamos a conseguir. Assim somos todos mais felizes: jogadores, treinadores e adeptos.
R – Jorge Jesus não estará no banco nos próximos três jogos do campeonato devido ao castigo que lhe foi aplicado. Os jogadores sentem a falta do técnico?
M – Claro que sentimos a falta dele! Não é igual jogar sem o treinador no banco. Mas estamos preparados para essa situação. Treinamo-nos sempre de forma intensa, falamos sempre antes dos jogos e cada um sabe o que tem de fazer.
R – Esteve em Guimarães, viu o que se passou no relvado. O castigo de Jorge Jesus é justo?
M – É muito injusto. Porque ele não faz nada. Só tentou defender um adepto que queria uma camisola.
R – Como é a relação de Jorge Jesus com os jogadores. Há algum desgaste, até porque já é a quinta época dele no Benfica?
M – Não existe desgaste.
M – Sim. Jorge Jesus é um treinador muito bom, melhorei muito desde que sou treinado por ele e teve um papel importante na minha evolução. Não tenho nada de mal a dizer dele.
R – E com Cardozo? Está tudo normalizado depois do que se passou no final da última época, na final da Taça de Portugal?
M – Acho que todos veem que o Cardozo joga e marca golos. Por isso está tudo normal.
R – Depois do que se passou, esperava que Cardozo surgisse tão forte neste início de época?
M – O Cardozo é um grande jogador e sempre esteve muito forte. Este ano tem dado continuidade e é um daqueles jogadores que a qualquer momento decide um jogo. Por isso tem sido semelhante àquilo que fez noutras épocas.
R – Já conseguiram esquecer o que aconteceu no final da última época? Alguma vez lhe passou pela cabeça não ganhar um único título?
M – Claro que ainda nos lembramos. Mas cada vez menos. Eu e todos os jogadores tentamos esquecer o que se passou, porque só temos de pensar no presente e no futuro.
R – Na presente época o objetivo continua a ser ganhar tudo: campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga?
M – Queremos ganhar tudo! Aliás, no Benfica o pensamento só pode ser esse.
R – Está a subir de rendimento, tal como a equipa. O que se passou no início de época a nível pessoal?
M – A nível coletivo estamos a um ponto do FC Porto e, por isso, está tudo em aberto. Pessoalmente, sempre fiz o meu trabalho, com aplicação. Umas vezes o jogo corre bem, outras menos bem e as coisas não acontecem como quero. Mas esforço-me sempre ao máximo.
R – Matic é um dos nomes mais bem posicionados para sair na reabertura do mercado em janeiro, caso o Benfica não passe aos oitavos-de-final da Champions. Sente essa pressão?
M – Nem sequer penso nisso. Só quero treinar-me e evoluir. É o meu único pensamento. O que se vai passar no futuro não sei. Sou muito feliz no Benfica e para a minha carreira é muito bom estar aqui.
R – Mas se sair, gostava que isso acontecesse só no final da época, de forma a hipoteticamente poder festejar um título de campeão nacional?
M – Claro! O meu sonho é ser campeão no Benfica.
R – Há pouco tempo, o Javi García falou do Matic, em declarações a Record, e disse que só lhe faltava ser campeão. Sente o mesmo?
M – Quero muito ser campeão. Isso é importante para mim e penso que para todos no clube. E acredito que é possível.
R – Diz que não pensa na saída. Mas ver o seu nome associado várias vezes ao Real Madrid, Manchester United ou Nápoles não mexe consigo? Não lhe dá mais motivação para trabalhar?
M – Ainda me dá mais motivação para trabalhar, mas isso são coisas que só se falam na comunicação social. Acaba por ser algo normal. Porque todos os clubes estão de olho nos jogadores do Benfica. Mas, como disse, sou muito feliz e não tenho problema se ficar mais algum tempo.
R – O Matic tem uma das cláusulas de rescisão mais altas do plantel: está “preso” por 50 milhões de euros. ha que vale esse montaAcnte, ou melhor, acredita que algum clube vai pagar essa quantia para assegurar a sua contratação?
M – Ui... isso é uma pergunta difícil! E não sei responder.Sinceramente, também acho que não sou a pessoa indicada para o fazer.
R – Onde é que se vê daqui a três ou quatro anos? Tem algum destino preferido?
M – Outra pergunta difícil. Não sei o que se vai passar no futuro. Só penso no momento.
M – Só penso em ganhar o campeonato com o Benfica. E depois começar bem a fase de qualificação com a Sérvia, para o campeonato da Europa de 2016, em França, e claro conseguirmos o apuramento. Quero muito lá estar e conseguir um bom resultado na competição ao serviço da minha seleção.
R – E há outro clube pelo qual ainda tenha o sonho de jogar?
M – Não sei. Vamos ver...
R – Concedeu uma entrevista a Record antes de assinar pelo Benfica, quando jogava no Vitesse, emprestado pelo Chelsea. A transferência para a Luz foi decisiva para a sua carreira?
M – Sim, esta mudança mudou por completo a minha vida. Já sabia que o Benfica era um grande clube, mas não tinha a noção de que era tão grande. Agora percebo a grandeza deste emblema e nunca vi nada parecido com isto na minha vida. É um dos maiores clubes do Mundo, de verdade.
Saiu cedo da sérvia rumo à Eslováquia, onde lhe aconteceu algo inesperado...
R – Nasceu em Vrelo, na Sérvia...
M – Sim, é uma pequena vila. É lá que estão os meus pais e os meus amigos de infância. E quando vou à Sérvia, aproveito sempre para estar lá com as pessoas importantes na minha vida.
R – Que memórias tem da guerra que afetou o país onde nasceu?
M – Da guerra de 1991 não tenho grandes lembranças, porque tinha apenas 3 anos. Ainda era muito criança. Mas em 1999, na guerra com os Estados Unidos da América, foi horrível. Muita destruição, aconteceram coisas muito más. A única coisa boa, se é que pode ter existido alguma nesta história toda, é que não tivemos de ir à escola (risos). Só jogávamos futebol.
M – Não era do que mais gostava, não. Para ser muito sincero. Passava todo o tempo a jogar futebol num campo que existia perto da escola.
R – Foi em Vrelo que começou a dar os primeiros pontapés na bola?
M – Exatamente. Foi lá que dei os primeiros pontapés na bola. Depois fui para o Estrela Vermelha, onde estive quatro anos. E finalmente representei o Kolubara, um clube dos campeonatos regionais da Sérvia.. Foi lá que comecei a jogar muito cedo na primeira equipa. Foi a minha primeira experiência como sénior. Também foi importante para mim.
R – Mas acabou por emigrar cedo para a Eslováquia. Porquê?
M – Sim, fui para lá muito jovem. Na Sérvia as coisas estavam difíceis e queria sair do país. Aventurar-me. Surgiu-me a oferta do Kosice, na primeira divisão da Eslováquia, e nem pensei duas vezes.
R – Lembra-se o que é que fez com o primeiro salário que recebeu?
M – Sim, perfeitamente. Mal recebi, enviei o dinheiro para a Sérvia, de forma a ajudar a minha família, que passava dificuldades.
R – Para si isso sempre foi um objetivo?
M – A minha família é o mais importante. Sempre.
R – E depois de estar no Kosice acontece a transferência para o Chelsea. Vendo agora as coisas, acha que tudo aconteceu muito rápido na sua carreira?
M – Eu não esperava transferir-me para o Chelsea. Joguei na Eslováquia um pouco mais de dois anos e, sem esperar, apareceu uma proposta do Chelsea. E quando me disseram a primeira vez que existia essa oferta de um clube tão importante, não acreditei. Mudar do Kosice, da Eslováquia, para o Chelsea é uma diferença que ninguém imagina. As coisas no Chelsea acabaram por não correr tão bem como queria, mas foi uma grande experiência para a minha carreira.
R – Sente algum tipo de mágoa por não ter conseguido mostrar o seu futebol no Chelsea. Foi uma oportunidade perdida na carreira?
M – Sabia que no Chelsea as coisas não seriam fáceis. Era muito jovem e na equipa existiam muitos jogadores de grande qualidade. E, para dizer a verdade, já não esperava ser muito utilizado. Eu queria, mas a equipa tinha acabado de ser campeã em Inglaterra e não era nada fácil chegar e jogar.
Estádio da Luz é um palco inspirador para um médio que se recusa a pensar já na Liga Europa...
R – Depois do golo ao Sp. Braga marcou novamente na Liga dos Campeões, diante do Anderlecht. Dois golos nos últimos dois jogos e ambos de grande importância para a equipa. São a confirmação de que está a passar um bom momento de forma?
M – Os golos são reflexo do rendimento da equipa. Tento sempre dar o meu máximo em todos os jogos e umas vezes consigo estar bem, outras nem tanto, mas trabalho sempre da mesma forma.
M – Este é um lance que treinamos muito. Tive a felicidade de concretizar, mas também há muito mérito do Enzo Pérez, na cobrança do livre lateral.
R – O jogo em Bruxelas foi difícil. O Benfica começa a perder, depois dá a volta e chega aos 2-1, mas acaba por permitir o empate. Houve algum momento de relaxamento da equipa?
M – Não houve qualquer relaxamento. O Anderlecht é uma boa equipa, difícil, e nos jogos da Liga dos Campeões o nível é diferente e tudo pode acontecer. Basta ver as dificuldades que as equipas portuguesas sempre sentiram quando jogaram, até hoje, na Bélgica.
R – Voltou a jogar com Fejsa no meio-campo, tal como acontece na seleção da Sérvia. Como é o entendimento entre vocês?
M – O Fejsa é um óptimo jogador e um excelente companheiro. Entendi-me bem como ele, tal como acontece quando jogo com o Enzo Pérez ou com o Ruben Amorim. Temos um plantel de grande qualidade e há espaço para todos.
R – Falta uma jornada para a conclusão da fase de grupos, mas o Benfica já não depende de si próprio. Acreditam que é possível passar aos “oitavos”, sabendo-se que o Anderlecht terá de dar uma ajuda no jogo com o Olympiacos?
M – Vamos dar tudo para ganhar ao PSG e acreditamos até ao fim que será possível seguir em frente na Liga dos Campeões. Sabemos que não dependemos apenas de nós, mas, para já, só podemos pensar em fazer o nosso trabalho. E tudo faremos para seguir em frente. É esse o compromisso que temos com os nossos adeptos, que têm estado ao nosso lado, mesmo nos momentos mais difíceis.
R – Será uma grande desilusão para os jogadores se não chegarem aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões?
M – Neste momento isso não nos passa pela cabeça. Só pensamos em vencer o PSG, de forma a continuarmos na prova.
R – A final da Liga dos Campeões esta época é no Estádio da Luz. Realisticamente, e tendo em conta as contas atuais, o plantel acredita mesmo que é possível chegar à final da prova?
M – Claro. Ambicionamos chegar à final, que ainda por cima é no nosso estádio. Sabemos que vai ser difícil, mas a nossa equipa acredita que é possível. Mas primeiro temos de passar a fase de grupos. Objetivamente, não vale a pena pensar muito na final, enquanto existirem jogos desta fase para serem disputados. O nosso pensamento imediato, em termos de Liga dos Campeões, está virado para o jogo com o PSG, que queremos vencer.
R – Mas não concorda que a Liga Europa, competição onde o Benfica alcançou a última final, é uma prova mais acessível e com maior possibilidade de ter sucesso?
M – Primeiro vamos dar tudo na Liga dos Campeões. Queremos ganhar o jogo que falta e, se passarmos, logo se vê como vai correr na fase a eliminar. Se não conseguirmos passar aos oitavos-de-final, então, sim, pensaremos definitivamente na Liga Europa.
Admite ficar "triste" pelo falhanço sérvio, mas agora garante que vai torcer pela Seleção Nacional...
R – A Sérvia não estará no Mundial do Brasil. Ficou muito desiludido?
M – Um jogador quer estar sempre num Mundial e é óbvio que fiquei triste. É uma montra para todos os jogadores.
R – Por que motivos a Sérvia não se apurou? Estamos a falar de uma equipa jovem, composta na maioria por jogadores que atuam nos principais campeonatos europeus...
M – Primeiro tínhamos duas equipas fortes no grupo. A Bélgica, que ficou em primeiro, e a Croácia, que foi ao playoff e acabou por se qualificar. Começámos mal a qualificação e faltou-nos sempre uma ponta de sorte que também é preciso nos jogos. Criámos situações mas não marcámos.
R – Esteve afastado de alguns jogos da qualificação. Acha que se tivesse entrado na equipa desde o início da fase de qualificação, a Sérvia estava apurada para o Mundial?
M – É impossível fazer essa análise. São apenas hipóteses e a verdade é que não nos qualificámos.
R – Ficou tudo resolvido com Mihaljovic, selecionador que, entretanto, acabou por deixar a seleção?
M – Nunca tive qualquer problema com ele. A nossa relação sempre foi normal. Não falei mal com ele, nunca lhe disse nada de mal. E a verdade é que na minha forma de ser tenho um lema: o treinador tem sempre razão.
R – Sem a Sérvia no Mundial vai torcer por quem?
M – Assim, estou a torcer por Portugal, claro, e pela Bósnia, um país da minha região.
Admite não ter ficado surpreendido pela escolha, pois tratou-se de uma "grande jogada da equipa"...
R – O golo que marcou ao FC Porto está nomeado para o Prémio Puskas [melhor golo do ano]. Já viu o golo muitas vezes? Foi o melhor golo da carreira?
M – Foi um bom golo. Foi o mais bonito e o mais importante da minha carreira. Porque ajudou a equipa e foi marcado num clássico com o FC Porto.
R – Ficou surpreendido por ter sido nomeado e estar ao lado de nomes como, por exemplo, Zlatan Ibrahimovic?
M – Para ser sincero, não. O golo foi bom, foi uma grande jogada da equipa, sempre ao primeiro toque. Ajudei a equipa nessa altura e isso foi o mais importante para mim.
"O treinador é quem decide e eu só estou aqui para cumprir. Por isso, tanto faz", admite...
R – Esta época já jogou na posição 6 e depois na posição 8. Onde se sente mais à vontade?
M – O treinador é quem decide e eu só estou aqui para cumprir. Por isso, tanto faz. Conheço as duas posições. Antes de vir para o Benfica jogava um pouco mais à frente no meio-campo. Desde que cheguei, tenho jogado quase sempre na posição 6. É onde me sinto mais confortável agora...
R – Joga mais como “6” e o Enzo como “8”. Têm formado dupla de sucesso no meio-campo. Entendem-se muito bem?
M – Jogamos quase de olhos fechados. O Enzo Pérez é um grande jogador e é fácil jogar com ele. Tem tudo o que um médio precisa para ter sucesso.
O final da última época deixou marcas, mas já ficou para trás. O importante, agora, é olhar para o futuro e Matic aposta num ano recheado de sucesso. A saída é um cenário abordado com grandes cautelas pelo sérvio, de 25 anos, já que até acontecer há um sonho para concretizar: “ser campeão no Benfica”...
RECORD – Marcou ao Anderlecht mas antes já o tinha feito ao Sp Braga, no campeonato. Com esse golo, o Benfica venceu e pouco depois o FC Porto empatou com o Nacional. O campeonato não podia estar mais em aberto?
Matic – Sim, é um facto. Nesta altura está tudo em aberto. Mas o mais importante mesmo é que ganhámos o nosso jogo e frente a uma equipa difícil. O Sp. Braga costuma colocar sempre muitas dificuldades aos adversários, mas ficámos com os três pontos.
R – O que sentiu quando correu para os adeptos para celebrar o golo?
M – Uma felicidade imensa. Porque tinha a noção de que o jogo estava difícil para a nossa equipa e o golo surgiu numa altura importante. Mas confesso que no final a felicidade ainda foi maior. Porque vencemos um desafio difícil graças ao golo que marquei.
R – Considera que o mau início de temporada já está completamente ultrapassado e que, agora, a equipa se encontra numa fase muito mais positiva?
M – Sim, estamos num bom momento. Estamos muito melhores do que no início e as exibições também têm sido mais positivas. Mas acho normal. Chegaram muitos jogadores novos e é sempre necessário existir um período de adaptação às ideias da equipa. Agora, penso sinceramente que essa fase já está ultrapassada.
R – E por isso considera que o Benfica é nesta altura a melhor equipa do campeonato? O FC Porto, o grande rival dos últimos anos, parece atravessar uma fase menos positiva...
M – Estamos bem, a subir de rendimento e confiantes. Mas só no final é que se poderá dizer quem foi a melhor equipa. É sempre assim. No fim é que se fazem as contas. Não vale a pena falar disso até lá.
R – Esperava que o Sporting oferecesse uma réplica tão forte depois do que aconteceu na última temporada?
M – Sim, porque o Sporting é sempre uma boa equipa. Mas não penso nos rivais mais diretos, seja no Sporting ou no FC Porto. Só quero fazer o meu trabalho e ajudar o Benfica.
R – O Benfica parece uma equipa mais pragmática do que nos últimos anos. Ou seja, aposta sempre mais no resultado do que na exibição. Concorda?
M – É difícil responder. No ano passado jogámos muito bem, fizemos grandes exibições e ganhámos muitos jogos. É certo que este ano as coisas estão um pouco diferentes. Não apresentámos ainda o mesmo nível de jogo e não marcamos tantos golos. Mas o importante é ganhar e isso estamos a conseguir. Assim somos todos mais felizes: jogadores, treinadores e adeptos.
R – Jorge Jesus não estará no banco nos próximos três jogos do campeonato devido ao castigo que lhe foi aplicado. Os jogadores sentem a falta do técnico?
M – Claro que sentimos a falta dele! Não é igual jogar sem o treinador no banco. Mas estamos preparados para essa situação. Treinamo-nos sempre de forma intensa, falamos sempre antes dos jogos e cada um sabe o que tem de fazer.
R – Esteve em Guimarães, viu o que se passou no relvado. O castigo de Jorge Jesus é justo?
M – É muito injusto. Porque ele não faz nada. Só tentou defender um adepto que queria uma camisola.
R – Como é a relação de Jorge Jesus com os jogadores. Há algum desgaste, até porque já é a quinta época dele no Benfica?
M – Não existe desgaste.
R – Existe, portanto, uma boa relação entre treinador e plantel?
M – Sim. Jorge Jesus é um treinador muito bom, melhorei muito desde que sou treinado por ele e teve um papel importante na minha evolução. Não tenho nada de mal a dizer dele.
R – E com Cardozo? Está tudo normalizado depois do que se passou no final da última época, na final da Taça de Portugal?
M – Acho que todos veem que o Cardozo joga e marca golos. Por isso está tudo normal.
R – Depois do que se passou, esperava que Cardozo surgisse tão forte neste início de época?
M – O Cardozo é um grande jogador e sempre esteve muito forte. Este ano tem dado continuidade e é um daqueles jogadores que a qualquer momento decide um jogo. Por isso tem sido semelhante àquilo que fez noutras épocas.
R – Já conseguiram esquecer o que aconteceu no final da última época? Alguma vez lhe passou pela cabeça não ganhar um único título?
M – Claro que ainda nos lembramos. Mas cada vez menos. Eu e todos os jogadores tentamos esquecer o que se passou, porque só temos de pensar no presente e no futuro.
R – Na presente época o objetivo continua a ser ganhar tudo: campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga?
M – Queremos ganhar tudo! Aliás, no Benfica o pensamento só pode ser esse.
M – A nível coletivo estamos a um ponto do FC Porto e, por isso, está tudo em aberto. Pessoalmente, sempre fiz o meu trabalho, com aplicação. Umas vezes o jogo corre bem, outras menos bem e as coisas não acontecem como quero. Mas esforço-me sempre ao máximo.
R – Matic é um dos nomes mais bem posicionados para sair na reabertura do mercado em janeiro, caso o Benfica não passe aos oitavos-de-final da Champions. Sente essa pressão?
M – Nem sequer penso nisso. Só quero treinar-me e evoluir. É o meu único pensamento. O que se vai passar no futuro não sei. Sou muito feliz no Benfica e para a minha carreira é muito bom estar aqui.
R – Mas se sair, gostava que isso acontecesse só no final da época, de forma a hipoteticamente poder festejar um título de campeão nacional?
M – Claro! O meu sonho é ser campeão no Benfica.
R – Há pouco tempo, o Javi García falou do Matic, em declarações a Record, e disse que só lhe faltava ser campeão. Sente o mesmo?
M – Quero muito ser campeão. Isso é importante para mim e penso que para todos no clube. E acredito que é possível.
R – Diz que não pensa na saída. Mas ver o seu nome associado várias vezes ao Real Madrid, Manchester United ou Nápoles não mexe consigo? Não lhe dá mais motivação para trabalhar?
M – Ainda me dá mais motivação para trabalhar, mas isso são coisas que só se falam na comunicação social. Acaba por ser algo normal. Porque todos os clubes estão de olho nos jogadores do Benfica. Mas, como disse, sou muito feliz e não tenho problema se ficar mais algum tempo.
R – O Matic tem uma das cláusulas de rescisão mais altas do plantel: está “preso” por 50 milhões de euros. ha que vale esse montaAcnte, ou melhor, acredita que algum clube vai pagar essa quantia para assegurar a sua contratação?
M – Ui... isso é uma pergunta difícil! E não sei responder.Sinceramente, também acho que não sou a pessoa indicada para o fazer.
R – Onde é que se vê daqui a três ou quatro anos? Tem algum destino preferido?
M – Outra pergunta difícil. Não sei o que se vai passar no futuro. Só penso no momento.
R – Quais os objetivos que ainda tem para a sua carreira?
M – Só penso em ganhar o campeonato com o Benfica. E depois começar bem a fase de qualificação com a Sérvia, para o campeonato da Europa de 2016, em França, e claro conseguirmos o apuramento. Quero muito lá estar e conseguir um bom resultado na competição ao serviço da minha seleção.
R – E há outro clube pelo qual ainda tenha o sonho de jogar?
M – Não sei. Vamos ver...
R – Concedeu uma entrevista a Record antes de assinar pelo Benfica, quando jogava no Vitesse, emprestado pelo Chelsea. A transferência para a Luz foi decisiva para a sua carreira?
M – Sim, esta mudança mudou por completo a minha vida. Já sabia que o Benfica era um grande clube, mas não tinha a noção de que era tão grande. Agora percebo a grandeza deste emblema e nunca vi nada parecido com isto na minha vida. É um dos maiores clubes do Mundo, de verdade.
Saiu cedo da sérvia rumo à Eslováquia, onde lhe aconteceu algo inesperado...
R – Nasceu em Vrelo, na Sérvia...
M – Sim, é uma pequena vila. É lá que estão os meus pais e os meus amigos de infância. E quando vou à Sérvia, aproveito sempre para estar lá com as pessoas importantes na minha vida.
R – Que memórias tem da guerra que afetou o país onde nasceu?
M – Da guerra de 1991 não tenho grandes lembranças, porque tinha apenas 3 anos. Ainda era muito criança. Mas em 1999, na guerra com os Estados Unidos da América, foi horrível. Muita destruição, aconteceram coisas muito más. A única coisa boa, se é que pode ter existido alguma nesta história toda, é que não tivemos de ir à escola (risos). Só jogávamos futebol.
R – Não era um aluno que gostava de estudar?
M – Não era do que mais gostava, não. Para ser muito sincero. Passava todo o tempo a jogar futebol num campo que existia perto da escola.
R – Foi em Vrelo que começou a dar os primeiros pontapés na bola?
M – Exatamente. Foi lá que dei os primeiros pontapés na bola. Depois fui para o Estrela Vermelha, onde estive quatro anos. E finalmente representei o Kolubara, um clube dos campeonatos regionais da Sérvia.. Foi lá que comecei a jogar muito cedo na primeira equipa. Foi a minha primeira experiência como sénior. Também foi importante para mim.
R – Mas acabou por emigrar cedo para a Eslováquia. Porquê?
M – Sim, fui para lá muito jovem. Na Sérvia as coisas estavam difíceis e queria sair do país. Aventurar-me. Surgiu-me a oferta do Kosice, na primeira divisão da Eslováquia, e nem pensei duas vezes.
R – Lembra-se o que é que fez com o primeiro salário que recebeu?
M – Sim, perfeitamente. Mal recebi, enviei o dinheiro para a Sérvia, de forma a ajudar a minha família, que passava dificuldades.
R – Para si isso sempre foi um objetivo?
M – A minha família é o mais importante. Sempre.
R – E depois de estar no Kosice acontece a transferência para o Chelsea. Vendo agora as coisas, acha que tudo aconteceu muito rápido na sua carreira?
M – Eu não esperava transferir-me para o Chelsea. Joguei na Eslováquia um pouco mais de dois anos e, sem esperar, apareceu uma proposta do Chelsea. E quando me disseram a primeira vez que existia essa oferta de um clube tão importante, não acreditei. Mudar do Kosice, da Eslováquia, para o Chelsea é uma diferença que ninguém imagina. As coisas no Chelsea acabaram por não correr tão bem como queria, mas foi uma grande experiência para a minha carreira.
R – Sente algum tipo de mágoa por não ter conseguido mostrar o seu futebol no Chelsea. Foi uma oportunidade perdida na carreira?
M – Sabia que no Chelsea as coisas não seriam fáceis. Era muito jovem e na equipa existiam muitos jogadores de grande qualidade. E, para dizer a verdade, já não esperava ser muito utilizado. Eu queria, mas a equipa tinha acabado de ser campeã em Inglaterra e não era nada fácil chegar e jogar.
Estádio da Luz é um palco inspirador para um médio que se recusa a pensar já na Liga Europa...
R – Depois do golo ao Sp. Braga marcou novamente na Liga dos Campeões, diante do Anderlecht. Dois golos nos últimos dois jogos e ambos de grande importância para a equipa. São a confirmação de que está a passar um bom momento de forma?
M – Os golos são reflexo do rendimento da equipa. Tento sempre dar o meu máximo em todos os jogos e umas vezes consigo estar bem, outras nem tanto, mas trabalho sempre da mesma forma.
R – Podia descrever como foi este último golo com o Anderlecht, em que apareceu sozinho na área. São lances de laboratório?
M – Este é um lance que treinamos muito. Tive a felicidade de concretizar, mas também há muito mérito do Enzo Pérez, na cobrança do livre lateral.
R – O jogo em Bruxelas foi difícil. O Benfica começa a perder, depois dá a volta e chega aos 2-1, mas acaba por permitir o empate. Houve algum momento de relaxamento da equipa?
M – Não houve qualquer relaxamento. O Anderlecht é uma boa equipa, difícil, e nos jogos da Liga dos Campeões o nível é diferente e tudo pode acontecer. Basta ver as dificuldades que as equipas portuguesas sempre sentiram quando jogaram, até hoje, na Bélgica.
R – Voltou a jogar com Fejsa no meio-campo, tal como acontece na seleção da Sérvia. Como é o entendimento entre vocês?
M – O Fejsa é um óptimo jogador e um excelente companheiro. Entendi-me bem como ele, tal como acontece quando jogo com o Enzo Pérez ou com o Ruben Amorim. Temos um plantel de grande qualidade e há espaço para todos.
R – Falta uma jornada para a conclusão da fase de grupos, mas o Benfica já não depende de si próprio. Acreditam que é possível passar aos “oitavos”, sabendo-se que o Anderlecht terá de dar uma ajuda no jogo com o Olympiacos?
M – Vamos dar tudo para ganhar ao PSG e acreditamos até ao fim que será possível seguir em frente na Liga dos Campeões. Sabemos que não dependemos apenas de nós, mas, para já, só podemos pensar em fazer o nosso trabalho. E tudo faremos para seguir em frente. É esse o compromisso que temos com os nossos adeptos, que têm estado ao nosso lado, mesmo nos momentos mais difíceis.
R – Será uma grande desilusão para os jogadores se não chegarem aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões?
M – Neste momento isso não nos passa pela cabeça. Só pensamos em vencer o PSG, de forma a continuarmos na prova.
R – A final da Liga dos Campeões esta época é no Estádio da Luz. Realisticamente, e tendo em conta as contas atuais, o plantel acredita mesmo que é possível chegar à final da prova?
M – Claro. Ambicionamos chegar à final, que ainda por cima é no nosso estádio. Sabemos que vai ser difícil, mas a nossa equipa acredita que é possível. Mas primeiro temos de passar a fase de grupos. Objetivamente, não vale a pena pensar muito na final, enquanto existirem jogos desta fase para serem disputados. O nosso pensamento imediato, em termos de Liga dos Campeões, está virado para o jogo com o PSG, que queremos vencer.
R – Mas não concorda que a Liga Europa, competição onde o Benfica alcançou a última final, é uma prova mais acessível e com maior possibilidade de ter sucesso?
M – Primeiro vamos dar tudo na Liga dos Campeões. Queremos ganhar o jogo que falta e, se passarmos, logo se vê como vai correr na fase a eliminar. Se não conseguirmos passar aos oitavos-de-final, então, sim, pensaremos definitivamente na Liga Europa.
Admite ficar "triste" pelo falhanço sérvio, mas agora garante que vai torcer pela Seleção Nacional...
R – A Sérvia não estará no Mundial do Brasil. Ficou muito desiludido?
M – Um jogador quer estar sempre num Mundial e é óbvio que fiquei triste. É uma montra para todos os jogadores.
R – Por que motivos a Sérvia não se apurou? Estamos a falar de uma equipa jovem, composta na maioria por jogadores que atuam nos principais campeonatos europeus...
M – Primeiro tínhamos duas equipas fortes no grupo. A Bélgica, que ficou em primeiro, e a Croácia, que foi ao playoff e acabou por se qualificar. Começámos mal a qualificação e faltou-nos sempre uma ponta de sorte que também é preciso nos jogos. Criámos situações mas não marcámos.
R – Esteve afastado de alguns jogos da qualificação. Acha que se tivesse entrado na equipa desde o início da fase de qualificação, a Sérvia estava apurada para o Mundial?
M – É impossível fazer essa análise. São apenas hipóteses e a verdade é que não nos qualificámos.
R – Ficou tudo resolvido com Mihaljovic, selecionador que, entretanto, acabou por deixar a seleção?
M – Nunca tive qualquer problema com ele. A nossa relação sempre foi normal. Não falei mal com ele, nunca lhe disse nada de mal. E a verdade é que na minha forma de ser tenho um lema: o treinador tem sempre razão.
R – Sem a Sérvia no Mundial vai torcer por quem?
M – Assim, estou a torcer por Portugal, claro, e pela Bósnia, um país da minha região.
Admite não ter ficado surpreendido pela escolha, pois tratou-se de uma "grande jogada da equipa"...
R – O golo que marcou ao FC Porto está nomeado para o Prémio Puskas [melhor golo do ano]. Já viu o golo muitas vezes? Foi o melhor golo da carreira?
M – Foi um bom golo. Foi o mais bonito e o mais importante da minha carreira. Porque ajudou a equipa e foi marcado num clássico com o FC Porto.
R – Ficou surpreendido por ter sido nomeado e estar ao lado de nomes como, por exemplo, Zlatan Ibrahimovic?
M – Para ser sincero, não. O golo foi bom, foi uma grande jogada da equipa, sempre ao primeiro toque. Ajudei a equipa nessa altura e isso foi o mais importante para mim.
"O treinador é quem decide e eu só estou aqui para cumprir. Por isso, tanto faz", admite...
R – Esta época já jogou na posição 6 e depois na posição 8. Onde se sente mais à vontade?
M – O treinador é quem decide e eu só estou aqui para cumprir. Por isso, tanto faz. Conheço as duas posições. Antes de vir para o Benfica jogava um pouco mais à frente no meio-campo. Desde que cheguei, tenho jogado quase sempre na posição 6. É onde me sinto mais confortável agora...
R – Joga mais como “6” e o Enzo como “8”. Têm formado dupla de sucesso no meio-campo. Entendem-se muito bem?
M – Jogamos quase de olhos fechados. O Enzo Pérez é um grande jogador e é fácil jogar com ele. Tem tudo o que um médio precisa para ter sucesso.
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