domingo, 12 de janeiro de 2014

"King" Eusébio - A pantera negra

O Nascimento de uma lenda




Eusébio da Silva Ferreira nasceu a 25 de Janeiro de 1942, o quarto filho de Laurindo António da Silva Ferreira, um angolano branco que trabalhava nos caminhos-de-ferro de Moçambique, e Elisa Anissabeni, uma mulher moçambicana. Foi na Mafalala, bairro pobre na periferia de Lourenço Marques (actual Maputo), que Eusébio começou a dar uns pontapés em bolas de trapos sem ligar muito à escola. “A minha mãe não gostava nada que eu andasse enfronhado no futebol, apertava comigo, que me importasse com a escola e me deixasse dos pontapés na bola, mas eu não sei explicar, havia qualquer coisa que me puxava, sentia um frenesim no corpo que só se satisfazia com bola e mais bola. O resultado disto era uns puxões de orelhas bem grandes e, uma vez por outra, umas sovas que não eram brincadeira nenhuma”, recordava Eusébio numa entrevista ao jornal A Bola.
No bairro onde viveram o poeta Craveirinha e os antigos presidentes de Moçambique Joaquim Chissano e Samora Machel, Eusébio ganhava os berlindes aos amigos apostando que conseguia dar x toques seguidos numa bola. Entre os jogos de futebol na rua e a presença intermitente na sala de aula, Eusébio sofreu uma tragédia precoce. Aos oito anos, ficava órfão de pai, vítima de tétano. “Segundo a minha mãe, o meu pai era muito bom jogador de futebol”, disse numa entrevista. Ficava Dona Elisa, os quatro rapazes (Jaime, Alberto, Adelino e Eusébio) e uma rapariga (Lucília). Num segundo casamento, Elisa teria mais três filhos (Gilberto, Inocência e Fernando).
Foi na Mafalala que conheceu a sua primeira equipa, Os Brasileiros, “um clube de pés-descalços” em que os jogadores adoptavam nomes dos craques brasileiros. Eusébio era Nené, um médio da Portuguesa dos Desportos, um primo seu é que era Pelé, ano e meio mais velho do que o moçambicano. Em 1958, Eusébio tinha 16 anos e Pelé 17 quando o Brasil foi campeão mundial na Suécia, a equipa que também tinha Didi, Zagallo e Garrincha. Todos tinham as suas contrapartes no FC Os Brasileiros.
Mas onde Eusébio queria jogar era no Desportivo de Lourenço Marques, filial do Benfica, clube do qual o pai era adepto. No Desportivo não o aceitaram porque era “franzino, pequenino” – Eusébio contou que esse treinador foi, depois, despedido. Também no Ferroviário o recusaram. O mesmo erro não cometeu o Sporting de Lourenço Marques, filial moçambicana do Sporting Clube de Portugal, que ficou com ele de imediato, depois de ter ido fazer testes com um grupo de rapazes do bairro. Mas Eusébio impôs uma condição: ou ficam todos, ou não fica nenhum. Ficaram todos.

O Sporting Laurentino insistia, mas Eusébio resistia, porque aquele não era o seu clube, nem o do seu pai, apesar das insistências de Hilário da Conceição, seu vizinho na Mafalala e futuro defesa esquerdo do Sporting e da selecção portuguesa – Hilário, dois anos mais velho do que Eusébio, foi o primeiro jogador negro a jogar no Sporting de Lourenço Marques e iria para Lisboa primeiro do que o Pantera Negra. Eusébio acabou por ir contrariado para os “leões” de Lourenço Marques. “Ninguém do meu bairro gostava do Sporting. Porque era um clube da elite, um clube da polícia, que não gostava de pessoas de cor”, contou mais tarde. Começou nos juniores, passou rapidamente para os seniores e estreou-se contra o “seu” Desportivo. Não queria jogar, mas jogou. Marcou três golos e chorou. Tinha 17 anos. O Sporting foi campeão regional com 30 remates certeiros de Eusébio, a quem o clube tinha arranjado um emprego como arquivador numa empresa que fabricava peças para automóveis.
Eusébio era um fenómeno na colónia e, na metrópole, já se ouvia falar dele. Portugal era o sonho dos jogadores nas colónias portuguesas em África e Eusébio não era excepção. E era um sonho muito possível. África era um grande fornecedor de jogadores para os clubes e selecção portuguesa. Os pretendentes eram muitos. Sporting, Benfica, Belenenses e FC Porto queriam Eusébio. Guttman já tinha ouvido falar dele, através de um brasileiro que o tinha visto jogar em Lourenço Marques. Os clubes começaram a movimentar-se, mas foi o Benfica quem chegou lá primeiro. Ofereceu 110 contos a D. Elisa, que deu a sua palavra de que o filho iria jogar no Benfica de Lisboa.
O Sporting terá oferecido mais depois, mas palavra dada era sagrada e a mãe de Eusébio não voltou atrás. Para além do mais, o Sporting queria Eusébio à experiência. “Eu já estava no Sporting e o presidente, sabendo que eu era muito amigo do Eusébio, chamou-me para lhe pedir para vir fazer testes. Ele respondeu: ‘Estás a ver o Seminário [peruano que jogou no Sporting entre 1959 e 1961, conhecido como "o expresso de Lima”]? Eu dou-lhe avanço a marcar golos. Querem experimentar o quê?”, recorda Hilário.
Tavares de Melo, talhante e representante do Benfica em Lourenço Marques, coordenou toda a operação. Depois de garantido o acordo de Eusébio e de D. Elisa, o objectivo era colocar o jogador na capital o mais depressa possível e sem que os adversários soubessem. Fez Eusébio embarcar com nome de mulher e terá feito chegar um telegrama ao Sporting lisboeta comunicando que o jovem jogador iria de barco para a capital. Por isso é que, quando Eusébio aterrou às 23h30 no aeroporto de Lisboa, apenas estavam lá representantes do Benfica (e o jornalista de A Bola) à espera dele. Do lado “leonino” falou-se de rapto, Eusébio sempre negou esta tese: “Eu só assinei contrato com o Benfica. Só quando aterrei aqui é que se começaram a inventar raptos. O contrato com o Benfica até dizia que, se não me adaptasse em Lisboa, o clube podia recuperar o dinheiro.”


A chegada ao Benfica

Quando Eusébio, menor de idade, chegou a Lisboa, o Benfica já estava nos quartos-de-final da Taça dos Campeões Europeus. “Não gosto de jogar a avançado centro”, foram as suas primeiras palavras, depois de uma viagem de “Portugal para Portugal”, como escrevia o jornal A Bola de 17 de Dezembro de 1960. Foi directo para a Calçada do Tojal, em Benfica, para viver no Lar do Jogador, onde estavam alojados os futebolistas “encarnados” que eram solteiros e que tinha hora de recolher obrigatório para os seus hóspedes. José Torres, dois anos mais velho, foi o seu anfitrião, eles que, pouco depois, fariam uma dupla temível no ataque do Benfica e da selecção nacional.
Estreia na Luz
Mas Eusébio ainda não podia jogar, apesar de impressionar nos treinos. Bela Guttman, o treinador, chamou-lhe o “menino de oiro” da primeira vez que o viu. O processo de transferência de “Ruth” ainda não tinha acabado. Eusébio tinha contrato assinado com o Benfica, mas ainda não tinha a carta de desobrigação que teria de ser passada pelo Sporting de Lourenço Marques, ainda empenhado na ida do jogador para os “leões” de Lisboa. A batalha jurídica é longa. Os dois lados esgrimem argumentos e o tempo vai passando, sem que haja uma decisão definitiva. Na Taça dos Campeões, o Benfica ultrapassa o Aarhus, da Dinamarca, e o Rapid de Viena, da Áustria, e com Eusébio sempre integrado na comitiva.
A final será contra o Barcelona, em Berna, a 31 de Maio. O Benfica manda Eusébio para um hotel em Lagos, para o esconder dos jornalistas e de outros pretendentes. A 12 de Maio, cinco meses depois de sair de Moçambique, o desfecho: Eusébio já é jogador do Benfica, que paga por ele 400 contos, mas não poderá defrontar a formação catalã devido aos regulamentos da União Europeia de Futebol (UEFA).
Ele não irá à Suíça, mas vai estar no jogo de despedida do Benfica antes da final, na Luz, frente ao Atlético, um futuro titular numa equipa quase só de reservas. A 23 de Maio, primeiro jogo pelo Benfica, primeiros golos, três, tal como a sua estreia pelo Sporting de Lourenço Marques. Minutos 11, 76 e 80, o do meio o primeiro penálti que marcou. Os benfiquistas estavam lá para ver o “disputadíssimo”. “Quando entrei e se me deparou uma multidão que gritava o meu nome, num testemunho de confiança que nunca esqueci, fiquei tonto. Ninguém imagina como estava nervoso”, contou Eusébio na sua biografia.
A equipa seguiu para Berna e conquistou o primeiro dos seus dois títulos europeus, com uma vitória por 3-2 sobre o Barcelona. Eusébio ficou em Lisboa e, no dia seguinte à final europeia, fazia a sua estreia oficial pelo Benfica, na segunda mão dos oitavos-de-final da Taça de Portugal no Campo dos Arcos, frente ao Vitória de Setúbal. Eusébio seria titular e marcaria o único golo “encarnado” nesse jogo que os sadinos venceriam por 4-1, anulando a desvantagem de 3-1. Nessa época, ainda houve tempo para se estrear no campeonato, na Luz frente ao Belenenses, ao lado dos senhores José Augusto e Coluna. Eusébio marca o segundo de uma goleada por 4-0 e ganha o direito a ser campeão.
O que Eusébio perdeu nesses primeiros meses foi largamente compensado na década e meia seguintes. Com Eusébio na equipa, o Benfica foi 11 vezes campeão em 15 anos. O moçambicano foi sete vezes o melhor marcador do campeonato português, duas vezes o melhor goleador da Europa. Conquistou mais cinco taças de Portugal e um título de campeão europeu de clubes. Ao todo, foram 17 títulos pelo Benfica: 11 campeonatos, cinco taças de Portugal e a Taça dos Campeões. Foi ainda o primeiro português a ser considerado o melhor jogador da Europa, em 1965. Depois dele, só Figo, em 2000, e Cristiano Ronaldo, em 2008.
Em 1961-62, a sua primeira época “a sério”, Eusébio ainda não está entre os cinco mais utilizados por Bela Guttman, mas já é o melhor marcador, com 29 golos em 31 jogos, mais do que o consagrado José Águas (26). O Benfica não seria campeão (terceiro lugar, atrás de Sporting e FC Porto), mas esta seria uma época histórica, a do Benfica bicampeão europeu, na final de Amesterdão, frente ao Real Madrid. Eusébio enfrentava o seu ídolo de infância, Alfredo di Stéfano. Na primeira das quatro finais que haveria de jogar na sua carreira, Eusébio marcou dois golos (os dois últimos e decisivos) naquele triunfo emocionante por 5-3, em que o Benfica chegou a estar a perder por 2-0 e 3-2.

A France Footbal considera-o já, nesse ano, o segundo melhor jogador do mundo. Os convites para jogar no estrangeiro obviamente surgiram. A Juventus oferece-lhe 16000 contos, em 1964, numa altura em que ganhava 300 contos no Benfica. A tentação era tão grande que o governo de então o envia para a tropa, não permitindo que se venda um tesouro nacional deste tamanho. O Benfica acabaria por lhe aumentar o salário para 4000 contos.
O jovem moçambicano de 20 anos “destruía” a lenda hispano-argentina merengue, 16 anos mais velha, mas manteve a deferência para com “don” Alfredo, como mantinha para com os seus companheiros de equipa mais velhos. “Tinha dito ao senhor Coluna para pedir ao senhor Alfredo di Stéfano para me dar a camisola. E consegui. Ele sabia lá quem era o Eusébio! Quando ganhámos, fui a correr para junto dele. Ele deu-me a camisola e ficou com a minha. Nessa altura roubaram-me o fio da minha mãe, os calções, mas consegui guardar a camisola nas cuecas. Apareço numa fotografia com uma mão à frente: estou a defender a camisola.”


O Mundial de Inglaterra

Eusébio precisou apenas de nove golos em cinco jogos pelo Benfica para se estrear na selecção portuguesa, por quem haveria de disputar 64 jogos (41 golos). O adversário era o fraco Luxemburgo e estava em causa a qualificação para o Mundial de 1962, no Chile. Peyroteo, antigo avançado do Sporting e membro dos famosos “cinco violinos”, estreava-se como seleccionador. A equipa era totalmente de Lisboa, um jogador do Belenenses, cinco do Sporting e cinco do Benfica, Eusébio era um deles.



A 8 de Outubro de 1961, um domingo, no Estádio Municipal do Luxemburgo, o herói foi outro. Adolphe Schmit, médio que nunca foi mais alto na sua carreira do que a segunda divisão francesa, marcou os três primeiros golos do jogo em 57 minutos. Portugal só reage aos 83’, com o primeiro golo de Eusébio ao serviço da selecção nacional, mas a selecção do grão-ducado repõe as diferenças no minuto seguinte. Yaúca, o único do Belenenses, fixou o resultado em 4-2. A derrota humilhante e inesperada afastou a selecção portuguesa do Mundial e o jogo seguinte, em Wembley, frente à Inglaterra (o tal em que Eusébio passou a ser o Pantera Negra), seria para cumprir calendário.


Três anos e meio depois, Portugal iniciava nova campanha para o Mundial de futebol, que seria em Inglaterra. Eusébio marcou sete golos na qualificação, um deles deu uma vitória surpreendente e dramática em Bratislava frente à poderosa Checoslováquia, vice-campeã mundial. Pela primeira vez a selecção portuguesa chegava à fase final de uma grande competição internacional. Comandados por Manuel da Luz Afonso e Otto Glória, os portugueses iam a Inglaterra com algum crédito. E com Eusébio, considerado no ano anterior como o melhor jogador europeu.



Eusébio ficou com o número 13 e a campanha com um triunfo em Old Trafford, o estádio do Manchester United, sobre a Hungria por 3-1, o único jogo do Mundial em que Eusébio não marcou qualquer golo. Depois, foi a história que bem se conhece. De novo em Old Trafford, Eusébio marcou o golo do meio no triunfo sobre a Bulgária. Seguia-se o Brasil de Pelé, no Goodison Park em Liverpool. Pelé ficou a zeros, Eusébio marcou dois e subiu ao trono de rei do Mundial. Portugal derrotava o campeão vigente e avançava para os quartos-de-final.





O jogo seria em Liverpool, o adversário seria a Coreia do Norte, uma equipa que também estava a ser uma sensação, depois de ter deixado a Itália de fora. Os "baixinhos com as caras iguais" (o mais alto tinha 1,75m), como disse um dia José Augusto, um dos membros da equipa portuguesa, começaram por surpreender os "magriços" de forma bastante afirmativa, colocando-se a vencer por 3-0. Mas Portugal tinha Eusébio, que, quase sozinho, destruiu os asiáticos, marcando quatro golos na partida dos quartos-de-final que terminaria em 5-3 para Portugal.
O golo que concretizou a reviravolta, o do 4-3, ainda hoje é mostrado nas escolas do Ajax de Amesterdão, aquela cavalgada de Eusébio desde o meio-campo até à área norte-coreana, onde só foi parado em penálti. “A bola está meio metro à frente dos meus pés, parece que tenho cola, e eu aumento a velocidade, meto as mudanças. Dei 17, 18 toques desde que o Coluna me entrega a bola. Sofro uma pancada à entrada da área, mas continuo, porque nunca fui de me atirar para o chão. Só que, depois, chega outro que me dá uma sarrafada... Penálti!”, foi como Eusébio descreveu o lance em entrevista ao Expresso.
Na sua primeira presença em Mundiais (seria a única até ao México 86), Portugal já estava entre as quatro melhores. Seguia-se a anfitriã Inglaterra. O jogo era para ser em Liverpool, de novo no estádio do Everton, mas, com o acordo da Federação Portuguesa de Futebol, mudou-se para Wembley e foi a selecção portuguesa que teve de mudar de base. Segundo contou Eusébio, a federação não era obrigada a aceitar a mudança, mas deu o consentimento a troco de compensação monetária. Mais uma viagem depois do duro jogo com a Coreia e as pernas dos portugueses já não estavam tão frescas para evitar o desaire por 2-1.
Torres e Eusébio
“A nossa federação vendeu-se e pronto”, acusou Eusébio, que marcou, de penálti, o golo português. Sem poder discutir o título, os “magriços” ganharam o jogo de consolação para o terceiro lugar, contra a URSS, por 2-1. Um golo de Eusébio, que foi o melhor marcador do torneio, com nove golos. Duas imagens ficaram deste Mundial de 66: Eusébio a ir buscar a bola à baliza coreana, um gesto simbólico para a reviravolta que acabaria por acontecer; Eusébio a chorar após a derrota com a Inglaterra, quando já nada havia a fazer.
Neste mundial de 1966 em Inglaterra, torna-se definitivamente uma estrela mundial, um digno rival de Pelé. 

O epíteto de "Pantera Negra" vai correr o mundo. A facilidade em marcar golos torna-o no melhor marcador do mundial com 9 golos, ajudando a levar Portugal ao terceiro lugar. Após o mundial, os italianos fazem uma nova oferta a Eusébio: 90000 contos... Quando parecia que desta vez nem o governo poderia impedi-lo de aceitar, surge a notícia que os clubes italianos deixam de puder contratar jogadores estrangeiros.


Património de Estado

Eusébio foi grande num tempo em que o futebol era diferente. Em que o futebol português era diferente. Em tudo. Nas rivalidades, nos hábitos, nos comportamentos. “Às segundas-feiras juntávamo-nos todos – do Sporting, do Benfica, do Belenenses –, almoçávamos frango assado no Bonjardim e depois íamos ao cinema. E andávamos sempre de metro ou de eléctrico, porque era mais barato. As pessoas paravam na rua só para nos verem juntos. Para tirar a carta tive de pedir autorização à minha mãe: 'Mas você vai tirar a carta porquê? Não há aí machimbombo [autocarro]?'”
Cinco anos depois de chegar a Portugal, Eusébio casou-se com a sua namorada, Flora (conheceram-se dois anos antes), em 1965, no evento que a revista Flama (que fez capa com Flora vestida de noiva) descreveu como “O remate final é o amor”. Tiveram duas filhas, por esta ordem, Sandra e Carla, respectivamente em 1966 e 1968. Foram fazendo vida em Lisboa, apesar das muitas propostas que Eusébio ia recebendo de grandes clubes. Mas o regime não o deixava sair. Salazar considerava-o património de Estado e isso, como o próprio admitiu várias vezes mais tarde, impediu-o de ganhar muito dinheiro.
Eusébio fez o seu último jogo pelo Benfica a 29 de Março de 1975. Foi no Estádio da Luz, frente ao Oriental, vitória por 4-0, nenhum dos golos marcados por Eusébio. O último de “encarnado” marcara-o uma semana antes, no Bonfim, ao Vitória de Setúbal. Nessa época, Eusébio fez apenas 13 jogos (dois golos), entre o campeonato e a Taça das Taças, a sua pior época desde a primeira, a de 1960-61 (dois jogos), menos de um terço dos jogos oficiais do Benfica.
Já depois da revolução de 25 de Abril de 1974, o clube “encarnado” deixou-o sair e Eusébio juntou-se a uma das maiores colecções de craques da história do futebol, a North-American Soccer League (NASL), todos eles seduzidos pelos dólares norte-americanos. Pelé, Franz Beckenbauer, George Best, Johan Cruijff, Carlos Alberto, Teófillo Cubillas, Gordon Banks, Gerd Muller, Carlos Alberto, Graeme Souness. Eusébio não foi o único português nos EUA. Acompanhou-o Simões, a quem sempre chamou o seu “irmão branco”. No país onde o futebol não é “football”, mas sim soccer”, a NASL conseguiu impor, por alguns anos, o futebol como desporto de massas, assente no princípio de que grandes estrelas dão grandes espectáculos e que grandes espectáculos (isto é especialmente verdade na América) atraem sempre muito público.
Eusébio era, de facto, uma estrela global, mas não foi desta que conseguiu jogar na mesma equipa de Pelé. Foram, novamente, adversários, como tinha acontecido em outras ocasiões. Pelé ficou no Cosmos de Nova Iorque, Eusébio foi para Boston, onde havia (e há) uma grande comunidade portuguesa. “Os grandes jogadores não podiam jogar na mesma equipa, era para ter ido para o Cosmos, mas fui para Boston. Com o mesmo contrato e a ganhar muito bem. Tinha casa, motorista. Até nos davam guarda-costas”, contou.

Em 1975, nos Minutemen, onde estavam muitos portugueses para além dele (Simões, Jorge Calado, Fernando Nélson e Manaca), Eusébio fez sete jogos e marcou dois golos – o jogo de estreia foi contra o Cosmos de Pelé. Bem melhor foi o ano de 1976, ao serviço dos Toronto Metro-Croatia, em que Eusébio marcou 13 golos e conduziu a formação canadiana ao título da NASL. Na passagem pelo continente americano, Eusébio esteve ainda no Monterrey, do México, nos Las Vegas Quicksilvers e nos New Jersey Americans.



                                                                                             

Nos intervalos da aventura americana, Eusébio regressava a Portugal, não para descansar, mas para manter a forma e ganhar mais alguns escudos. Foi assim que jogou no Beira-Mar os seus últimos minutos e marcou os seus últimos golos na primeira divisão portuguesa e foi assim que andou pela segunda divisão a fazer carrinhos pelo União de Tomar, o seu último clube em Portugal. Eram contratos de curta duração. Eusébio e Simões, os irmãos, jogaram juntos até ao fim. Eusébio ainda teve a hipótese de jogar no Sporting, por convite de João Rocha, antes de ir para Aveiro.
Do Beira-Mar, Eusébio teve o seu último contacto com o principal escalão do futebol português. Não com a camisola encarnada do Benfica, mas com o equipamento amarelo e negro da equipa aveirense. Pagavam-lhe 50 contos por mês. Dois momentos são importantes nesta breve passagem por Aveiro. Quando defrontou o rival Sporting e o seu clube do coração, o Benfica. Foi contra os “leões” que marcou, a 6 de Março de 1977, o seu último golo na primeira divisão, confirmando o Sporting (a par do Belenenses) como a maior “vítima” dos seus remates certeiros, 24.

Depois do Beira-Mar e de mais uma temporada nos EUA, Eusébio foi para o União de Tomar, da segunda divisão. Estreou-se com a camisola vermelha e negra do União a 1 de Dezembro de 1977, frente ao Estoril. Em 12 jogos disputados pelo clube ribatejano, marcou três golos, mas, nesta fase, ele já não era um avançado. Andava mais pelo meio-campo, tal como António Simões. “O nosso estilo era diferente. Já não tínhamos pernas para lá ir, ficávamos mais no meio-campo. Mas o Eusébio, nos livres, era igual”, recorda Simões. Em Tomar, até carrinhos fazia.
De Tomar para Buffalo. Buffalo é relevante na vida de Eusébio? É e não é. Em toda a sua carreira é apenas uma nota de rodapé, mas é nesta cidade do estado de Nova Iorque que irá cumprir os seus últimos jogos. A camisola dos Buffalo Stallions, equipa da Liga indoor norte-americana, será a sua última. Fica o registo do rendimento de Eusébio, veterano avançado de 38 anos e com os joelhos em mau estado, em 1979-80, a sua última época: cinco jogos e um golo.

Quando deixou de ser jogador, Eusébio nunca quis ser treinador principal. Foi ficando pelo Benfica, como adjunto, para ensinar uns truques a diferentes gerações de futebolistas. Por exemplo, como marcar golos estando atrás da baliza, um truque que tinha começado numa aposta com Fernando Riera. Eusébio apostou um fato com o treinador chileno em como conseguia marcar três golos em dez tentativas. O desfecho foi o mesmo das vezes em que apostava berlindes com os outros miúdos da Mafalala. Ganhou.

A lenda foi-se mantendo intacta. King em todo o mundo. Ninguém melhor para servir de embaixador do Benfica e de Portugal. Mas o homem passou um mau bocado nos últimos anos de vida, uma decadência natural da idade, mas acelerada por alguns excessos. Os seus últimos tempos foram uma constante de alertas médicos e idas para o hospital, que terminavam sempre com um sorriso e a garantia de que tudo estava bem.
Quando fez 70 anos, numa festa com centenas de convidados, Eusébio já era um homem debilitado, de poucas palavras. Mas fazia questão de acompanhar a selecção para todo o lado e estava lá, no Euro 2012, para ver a sua contraparte do século XXI, Cristiano Ronaldo, conduzir a equipa portuguesa até às meias-finais – ao contrário de Ronaldo, Eusébio nunca foi capitão, apenas desempenhou essa função episodicamente. Eusébio sentiu-se mal após o jogo com os checos e já não estava na Ucrânia quando a selecção portuguesa foi eliminada pela Espanha nas meias-finais.
Ele era o homem que todos os guarda-redes temiam, mas também era aquele que cumprimentava os guarda-redes que defendiam os seus remates que pareciam indefensáveis. Ele era o homem que gostava de jazz e de caril de marisco, que almoçava quase diariamente no seu restaurante preferido desde que chegou a Lisboa em 1960, a Adega da Tia Matilde. Foi objecto de uma banda desenhada, de músicas com o seu nome no título e no refrão, de uma longa-metragem, de inúmeras homenagens e distinções, sempre nas listas dos melhores de sempre. Essa é uma equipa onde nunca será suplente.


Gloriosa caminhada de Eusébio de águia ao peito



Estreou-se na Equipa em 1 de Junho de 1961 no jogo da infâmia em que obrigaram o Benfica (não os melhores futebolistas do "Glorioso") a jogar na Taça de Portugal no dia seguinte à conquista do Campeonato Europeu em 31 de Maio de 1961, em Berna, na Suíça, frente ao FC Barcelona. Jogou a titular e facturou o único golo do Benfica, num pontapé bem direccionado, aos 63 minutos.
Mesmo assim completou 4 jogos, ficando na memória o primeiro encontro com Péle na equipa do Santos FC, marcando 3 golos




Eusébio, Costa Pereira, Coluna


Depois de uma época inicial em que foi impedido, por questões burocráticas, de jogar, apenas fazendo a estreia em Junho, no último mês da temporada em 1961/62 Eusébio mostrou que mesmo com 20 anos era um fora de serie! O Benfica tinha uma grande equipa antes de Eusébio chegar: Bicampeã Nacional (1959/60 e 1960/61) e Campeã Europeia (1960/61). Com Eusébio do melhor surgiu o óptimo. Em 1961/62, Bicampeã Europeia (V 5-3; Real Madrid CF; Amesterdão) e Vencedora da Taça de Portugal (V 3-0; Vitória FC Setúbal; Estádio Nacional).Acabando a sua primeira temporada a serio pelo Benfica com 45 golos em 44 jogos





  
Benfica 5-3 Real Madrid 
Taça dos Campeões Europeus 1961-62
Final



Consagrado como Campeão Europeu e o Benfica como Bicampeão, a época de 1962/63 ficou marcada pela terceira final consecutiva na Taça dos Clubes Campeões Europeus consecutiva (D 1-2; AC Milan; Wembley; Reino Unido) e o primeiro campeonato nacional (1962/63) daquela que seria o segundo Tri-campeonato da história do "Glorioso"Acabando a temporada com 47 golos em 51 jogos






Consagrado como Campeão Nacional a época de 1963/64 ficou marcada pelo Bi-campeonato nacional e a conquista da Taça de Portugal (V 6-2; FC Porto; Estádio Nacional) a primeira "dobradinha" de Eusébio. Acabou a temporada com 54 golos em 40 jogos.




Consagrado como Bicampeão Nacional a época de 1964/65 ficou marcada pelo Tri-campeonato nacional e a quarta final (em cinco épocas) na Taça dos Clubes Campeões Europeus jogada em casa do adversário (D 0-1; FC Inter Milão) num dia de temporal. Neste mesmo ano o Sport Lisboa e Benfica vence por 5-1 o Real Madrid para a taça dos campeões europeus

Olhando para a carreira, parece fácil atingir estes números, acabando a temporada com 58 golos em 48 jogos

























Consagrado como Tricampeão Nacional em 1964/65, a época de 1965/66 ficou marcada pela presença na fase final do Mundial de 1966 em Inglaterra. Tendo o Benfica ficado em segundo lugar no campeonato atrás do Sporting. Não ganhando a Taça de Portugal,  e ficando pelos quartos-de-final da Taça dos Campeões Europeus, perdendo com o Manchester United. Acabou a temporada com 41 golos em 34 jogos

O melhor futebolista da fase final do Mundial de 1966 em Inglaterra "Pátria do Foot-Ball". Delícia eterna para os ingleses que nunca mais esqueceram e que vão passando a admiração de geração em geração. Acabando o mundial com 9 golos em 6 jogos, na cabeça ficam ainda os quatro golos a Coreia do Norte, e os dois golos no duelo com Péle no jogo contra o Brazil.







Depois do Mundial de 1966 havia que recuperar o título de campeão nacional. E assim foi em 1966/67. O primeiro título do "Terceiro Tri", segundo de Eusébio. Acaba a temporada com 56 golos em 49 jogos.






Depois do título de campeão nacional o Bi-campeonato em 1967/68 e a presença do "Glorioso" na quinta final da Taça dos Clubes Campeões Europeus (em oito temporadas), perdendo com o Manchester United após prolongamento, Eusébio acaba por falhar 1 oportunidade clara, desperdiçando o tão desejado golo que daria a terceira taça. Mais um registo impressionante ao marcar 67 golos em 46 jogos

Eusébio e Trapattoni
Depois dos títulos de campeão nacional em 1966/67 e 1967/68, o Tri-campeonato em 1968/69 e a conquista da Taça de Portugal (V 2-1; Associação Académica Coimbra; Estádio Nacional). Época abalada pelo excesso de duras faltas sofridas, e consequentes lesões, acaba a temporada apesar de tudo com 35 golos em 47 jogos

Sport Lisboa e Benfica x Celtic Football Club
Numa temporada difícil de 1969/70 o final de época trouxe mais um título, a Taça de Portugal (V 3-1; Sporting CP; Estádio Nacional).
Neste ano a imprensa desportiva muito falou que as lesões de Eusébio seriam fatais, eis que ainda assim participou em 31 jogos marcando 27 golos.



Depois do insucesso de 1969/70 esta temporada de 1970/71 marcou o início de mais um Tri-campeonato e a presença pela segunda vez consecutiva na final da Taça de Portugal. Fica ainda na memória o derby da Luz, onde atropela o Sporting. Damas salva o Sporting de um cataclismo maior e Eusébio “só” marca um. No dia seguinte, a imprensa é unânime: Damas foi mesmo o melhor em campo, apesar dos cinco golos sofridos. Eusébio acaba a temporada com 54 golos em 50 jogos

Depois do campeonato nacional em 1970/71 esta temporada de 1971/72 marcou a conquista do segundo campeonato nacional e a finalizar uma "dobradinha" com a vitória na final da Taça de Portugal (V 3-2; Sporting CP; Estádio Nacional) com três golos de... Eusébio. Acaba a temporada com 43 golos em 52 jogos

Porto 1-3 Benfica Campeonato 1971-72




Benfica 3-2 Sporting Taça de Portugal 1971-72 - Final

Na quarta final da Taça consecutiva em que o Benfica participa, e pela terceira vez seguida contra o Sporting, um jogo muito duro e quente vai dando um empate a 2-2 ao fim de 90 minutos. O sofrimento prossegue prolongamento adentro e a dois minutos do final dos 30 minutos extra, o Pantera desfaz o nó e marca o terceiro do Benfica, o terceiro da sua conta nessa tarde. Na época seguinte, já com 31 anos, voltará a ser o melhor marcador do campeonato, com 40 golos — quatro deles num só jogo, o derby da primeira volta. Por incrível que pareça, estes dois lá continuaram amigos, como sempre.

   












Mais um Tri-campeonato em 1972/73 e a consagração internacional (mais uma...) de Eusébio com a conquista da segunda "Bota de Ouro". Acaba a temporada com 74 golos em 58 jogos, um golo a cada 69 minutos.
Eusébio e Gerd Muller (1973)

Benfica 4-1 Sporting Campeonato 1972-73

 

Em 1973/74 soou o alarme. O "Glorioso" dominava o futebol em Portugal mas não conseguiu nem Campeonato, nem Taça de Portugal, apesar de estar presente na final. As competições europeias eram também uma miragem. Faltava capacidade física e mentalidade ao futebol português. Acaba com 23 golos em 32 jogos


Em 1974/75 o "Glorioso" recuperou o título de campeão nacional e volta a estar na final da Taça de Portugal. Infelizmente Eusébio já não fazia a diferença. Estava no fim a sua carreira - 15 temporadas - no Benfica.





O lugar de Eusébio no Estado Novo

No Portugal dos anos 60, abundavam as imagens de Eusébio da Silva Ferreira. Ele aí estava, espalhado por jornais e revistas, mas também em programas e serviços noticiosos da Radiotelevisão Portuguesa. Atleta do Benfica e da selecção nacional, sempre na sua função de jogador de futebol, era aclamado pelo seu inegável talento. No Portugal metropolitano de então, onde rareavam ainda os naturais de África, nunca um negro merecera tanto destaque e fora objecto de tamanha glória. Uma representação destas distinguia-se da imagem do africano, que proliferara na cultura popular. Como demonstrou Isabel Castro Henriques (A Herança Africana em Portugal, ed. CTT), o negro era quase sempre ridicularizado com evidente crueldade, em livros, imagens, jornais, bandas desenhadas, campanhas publicitárias e anedotas. A construção de um outro tipo de africano, fundada numa distância que permitia as maiores efabulações, só tomou um sentido mais concreto durante a guerra colonial, onde o africano era o inimigo, o “turra”.


Desde os seus primórdios, o Estado Novo contribuíra decisivamente para a disseminação de um racismo generalizado, garantindo-lhe até um carácter científico. Em exposições e congressos, nos trabalhos de diversas ciências coloniais, e em muitas publicações oficiais, expunha-se um outro africano culturalmente diferente, que fazia parte integrante do império português, mas que era colocado à parte, como se se tratasse de um todo racial e cultural discrepante. O império afirmara o atraso civilizacional das populações africanas, legitimando assim uma conquista colonial anunciada como uma missão de desenvolvimento destas regiões e dos seus povos. Justificou-se, desta forma, que Portugal atribuísse uma cidadania específica à maioria dos povos que governava, enquadrada pelo chamado sistema de indigenato, que cessou em 1961, precisamente no ano em que Eusébio começou a jogar no Benfica, depois de chegar a Portugal em Dezembro de 1960.


É evidente que as retóricas integracionistas do Estado Novo na década de 60 obrigavam a outras representações do africano, nomeadamente a de um sujeito colonial assimilado à sociedade portuguesa. Eusébio ajustava-se bem a esta imagem. A sua autobiografia, publicada em 1966 em Portugal e redigida por Fernando G. Garcia a partir de um conjunto de entrevistas (traduzida em inglês no ano seguinte), conta a história de um “bom rapaz”, narrativa mestra e memória oficial a partir daí repetida em jornais, biografias e bandas desenhadas.
A “verdadeira” história de Eusébio apresenta um conjunto de etapas, do Bairro da Mafalala na Lourenço Marques colonial, onde vivia com a mãe Elisa num contexto de pobreza honrada, os jogos de bairro e a equipa dos “brasileiros”, as idas à escola, o deslumbramento com o centro da cidade colonial, que pouco conhecia, a entrada no futebol local, a transferência atribulada para o Benfica e os diversos passos da brilhante carreira profissional.

Nesta história, a lista impressionante de feitos desportivos é intervalada pelo relato do casamento com Flora e pela incorporação de Eusébio, em 1963, no Exército português, profusamente fotografada e utilizada como propaganda. A incorporação militar, o casamento e a vida familiar contribuíam para a construção quase perfeita da biografia de um indivíduo assimilado, preocupado com o trabalho e com a família e plenamente integrado no Portugal de Salazar, um jovem de origens desfavorecidas que, apesar da sua notoriedade, continuava a perceber o seu lugar social.
A apropriação oficial da imagem de Eusébio não anulava os efeitos produzidos pelo facto de um negro se ter tornado uma figura dominante da cultura popular portuguesa. Eusébio entrou, tal como a fadista Amália, num universo de glorificação cultural até aí constituído por indivíduos com origens e percursos muito distintos, consagrados em actividades oficialmente legitimadas e de onde o futebol e o fado se encontravam afastados.

Apesar do reconhecimento do seu mérito, a apreciação entusiástica que mereceu não resultava de uma inusitada consciência de igualdade racial, tão-pouco poderia servir de prova de que a sociedade portuguesa estava preparada, devido a uma característica cultural adquirida, a aceitar a diferença. A relevância de Eusébio dependia do seu valor enquanto elemento de uma economia particular, no contexto de uma troca muito específica, proporcionada pelo processo de profissionalização do futebol. 

O jogador moçambicano oferecia quase todas as semanas capitais preciosos à representação nacional mas sobretudo clubista, a uma específica cidadania exercida diariamente por muitos indivíduos, quase todos homens, durante incontáveis encontros, conversas e imensas retóricas, nos quais se manifestava uma identificação, uma forma de apresentação na vida de todos os dias. Os que no campo representavam com o seu génio desportivo esta pertença (ser do Benfica, do Sporting, do Porto, ou da selecção) mereciam quase todas as recompensas, independentemente da sua origem ou da cor da sua pele. O valor de Eusébio nesta economia particular dependia da manutenção de um nível performativo constante, de um ritmo laboral intenso, com consequências físicas conhecidas, como asseveram as inúmeras cirurgias ao seu martirizado joelho.


As exibições no Mundial de 1966 ampliaram a reputação de Eusébio, oferecendo-lhe uma dimensão global. Este enorme atleta, personagem principal de uma cultura de consumo em expansão que gerava novas identificações, juntou-se à memória visual colectiva de uma geração, ao lado de outros ícones da cultura popular dos anos 60. Em Inglaterra, país que na altura já abdicara da grande parte das suas colónias, governada em 1966 por um governo trabalhista, os negros eram uma enorme raridade nos campeonatos desportivos e nenhum chegara à selecção nacional.

O efeito do poder mediático de vedetas populares como Eusébio foi alvo de escrutínio, as suas posições interpretadas, os resultados políticos dos seus actos avaliados. Se o Estado Novo sempre desconfiara da "espectacularização" do desporto assente no movimento associativo, veio depois a perceber que esta lhe podia ser útil. Para as oposições ao regime, menos preocupadas em reconhecer o efeito propriamente político da invulgar notoriedade social de um negro em Portugal, importava denunciar a utilização de Eusébio na defesa da “situação”, enquanto elemento da narcotização do povo – ao lado do fado, do chamado nacional-cançonetismo e de Fátima – e especificamente da propaganda imperial, fundada na mitologia do "pluri-racialismo", num período em que Portugal lutava pelos seus territórios numa guerra travada em três frentes.


É interessante verificar que nas últimas décadas Eusébio veio a tornar-se objecto de interesse para os estudiosos do continente africano, entendido como um pioneiro do futebol em África, um exemplo de talento extraordinário e, simultaneamente, ao lado de outros grandes nomes negros da história do desporto internacional, nomeadamente norte-americanos, desde Joe Louis a Jesse Owens, alguém que vingara num mundo fortemente discriminatório. O desejo de alguns académicos e jornalistas estrangeiros em encontrar no discurso de Eusébio posições emancipadoras e politizadas esbarrou quase sempre em respostas evasivas e no habitual refúgio no mundo do futebol. Na verdade, o universo que ele, desde pequeno nos espaços livres da Mafalala, aprendera a dominar. Para aquele que foi considerado, depois do Mundial de 1966, como “o melhor da Europa”, e de quem se falava estar a disputar com Pelé o título de “rei do futebol mundial”, África e a política africana estavam muito longe.


De regresso a África

O Estado Novo tratou de voltar a lembrar que Eusébio era africano, parte de um Portugal enorme que se prolongava para sul. Se é evidente que o impacto de Eusébio na sociedade portuguesa não pode ser avaliado apenas à luz de uma história política, sendo essencial investigar o efeito simbólico da notabilidade de um jogador negro, é também certo que na década de 60 a sua glória serviu a defesa de uma excepcionalidade colonial. Foi esta que serviu de justificação à soberania sobre os territórios africanos e a sua história, contada e recontada até aos nossos dias, contribuiu para lançar um manto sobre o passado, ajudando a reproduzir mitos sobre a tolerância racial dos portugueses.

Um ano antes do Mundial de 1966, o embaixador português Franco Nogueira, numa conferência na embaixada portuguesa em Londres (em Maio de 1965), falou sobre os princípios orientadores da política portuguesa em África: “O nosso primeiro princípio orientador é a igualdade racial – uma pequena noção que trouxemos para África há mais ou menos 500 anos”. Portugal orgulhava-se do seu império se constituir como um “espaço multirracial”, uma “democracia racial real” onde todos “trabalham harmoniosamente para os mesmos fins”.


Falso e mistificador, o olhar de Franco Nogueira, ao incluir o império dentro da sociedade portuguesa, acabava por realçar o facto de que o mundo governado pelos portugueses na década de 60 era maioritariamente negro e africano, realidade por vezes esquecida nas análises historiográficas sobre Portugal. E qual era o lugar que a gestão colonial portuguesa atribuíra a esta grande maioria da população? Segundo a história mediatizada da vida de Eusébio existia em Moçambique um contexto de igualdade de oportunidades e uma ausência de preconceito racial, bem ilustrados por um percurso de mobilidade social, desde o Bairro da Mafalala até à metrópole e aos grandes estádios europeus.
Poderá um caso excepcional ilustrar a excepcionalidade de um regime colonial? É que o lugar da população africana, na grande sociedade portuguesa de 60, era bem diferente do representado pelo caso de Eusébio. A sua integração estava longe de estabelecer qualquer padrão que pudesse explicar os 500 anos de colonialismo de que falava Franco Nogueira.

Mais fiável parecia ser a história da cidade onde o jogador moçambicano cresceu. Desde a sua fase moderna, iniciada no final do século XIX e projectada pela industrialização da África do Sul, que Lourenço Marques se dividira entre um centro colono, predominantemente branco, e um subúrbio precário, predominantemente negro. Pela força, afastaram-se as populações locais para a periferia. Separada fisicamente, a mão-de-obra africana que se acumulava nos subúrbios, essencial para o funcionamento do sistema colonial, foi enquadrada por leis e normas. Estas regulavam uma discriminação racial, a qual era evidente não apenas na lógica do indigenato, mas que se traduzia no quotidiano, nos espaços públicos, nas escolas, nos transportes e nos locais de trabalho, onde sofreram durante muito tempo o flagelo do trabalho forçado. O historiador Valdemir Zamparoni explicou bem este mesmo processo, na sua tese sobre a capital de Moçambique.

Já depois do fim do indigenato persistia o que, num artigo publicado em 1963 no jornal A Tribuna, o arquitecto Pancho Guedes chamava de “cinto do caniço” que separava o centro urbano da “cidade dos pobres, dos serventes e dos criados”, isto é a cidade dos africanos. Lourenço Marques carecia então, segundo o arquitecto, de “uma genuína integração social – ou serão os “pretos” só para estar nas cozinhas e nas recepções?”
Os habitantes dos bairros periféricos da cidade, onde nasceu Eusébio em 1942, trabalhavam nas indústrias locais, nos portos e nos caminhos-de-ferro, nos serviços domésticos, em actividades ditas informais, dependendo de pequenas lavras, ou faziam parte da forte emigração para o país vizinho, controlada e taxada pelo estado colonial. Esta estrutura laboral era fortemente racializada, pertencia a um sistema onde a cor da pele mostrava os contornos da organização social. 
Eusébio e Coluna, com Salazar
Na grande sociedade portuguesa de 60, o lugar dessa maioria africana, mesmo depois do fim do indigenato, continuava a revelar a herança de um colonialismo predador e racista, não muito diferente dos outros colonialismos nos seus propósitos e objectivos, nos meios e nas estratégias, e absolutamente nada excepcional.
Explicada pela conjugação única entre a profissionalização do futebol e a procura de talentos, a força da cultura popular mediática e um regime que necessitava de defender por todas as formas o mito do "pluri-racialismo" lusófono, a carreira extraordinária de Eusébio não belisca a imagem pérfida do sistema colonial português. 

Nuno Domingos – Investigador do ICS-UL

Equipas




1957-1960: Sporting Clube de Lourenço Marques 
1960-1975: Benfica (marcando 317 golos em 301 partidas) 
1975: Boston Minutemen 
1976: CF Monterrey 
1976: Toronto Croatia 
1977: Las Vegas Quicksilver / Beira-Mar
1979: União FCI Tomar





Títulos

Bicampeão europeu de clubes, Taça dos Campeões Europeus: 1961, 1962 
Campeonatos nacionais: 60/61, 62/63, 63/64, 64/65, 66/67, 67/68, 68/69, 70/71, 71/72, 72/73 e 74/75 
Taça de Portugal: 61/62, 63/64, 68/69, 69/70 e 71/72
Campeão da Taça de Honra: 1963, 1965, 1968, 1973 e 1975 
Liga Norte-Americana: 1976 
Liga Mexicana: 1976 
Vice-campeão europeu: 62/63, 64/65 e 67/68 
Ballon D'or: 1967/68, com 43 golos, 1972/73, com 40 golos
Prémio de melhor jogador da Europa, Ballon d'or, em 1966

Prémios de melhor marcador:

Melhor marcador da Copa do Mundo de 1966 
Melhor marcador da primeira divisão portuguesa em 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1970 e 1973 
Melhor marcador da Europa em 1968, 1973 
Melhor marcador da Champions League em 1965, 1966 e 1968

Breves Historias: 


João Maria Tudela era um adepto fervoroso do Benfica. Na época mais grandiosa do clube, os anos 60, a época de Eusébio, raramente perdia um jogo. E certa tarde no Estádio da Luz, mal o jogo começa, ao fim de dois ou três minutos, Eusébio dispara um daqueles golos que dele fizeram uma lenda. Acto contínuo, João Maria Tudela levanta-se, rasga vigorosamente o bilhete e vai começar a afastar-se quando um dos amigos com quem estava lhe pergunta, desconcertado, «mas onde é que vais?»



Vou comprar outro bilhete, que este já está pago.




Conta António Simões, aquando o mundial de 1966 que os números das camisolas da selecção eram sorteados entre todos os convocados, calhando ao Simões o número 13 e ao Eusébio a camisola 11. Eusébio entrava sempre com o número 8, ou por vezes o numero 10, sendo que o Simões preferia a sua camisola de sempre o numero 11. Simões conversou com Eusébio e pediu-lhe para imaginar entrar com a camisola 13, imaginar o engano que seria criado em volta da camisola 13 aquando Eusébio marcasse outros tantos golos a que estava acostumado. E assim foi Simões, convenceu o companheiro e amigo a dar-lhe a sua camisola, e Eusébio acaba por ser o melhor marcador do mundial de 1966 com o número 13 nas costas.


Numa viagem a Liverpool, depois do Benfica ter goleado o Everton por 5-0: “O estádio era feio, escuro, o tempo estava horrível, e, a certa altura, o ´speaker’ anunciou que o Eusébio vinha ao centro do terreno”.Aqueles ingleses todos desataram a aplaudir de pé o Eusébio, foi a única alegria que tiveram naquela noite em que ‘levaram’ mais dois golos do Benfica. Fiquei magoado. O Eusébio era nosso, aqueles ingleses não tinham nada de o aplaudir, mas depois vi que o tinha de partilhar porque ele é maior do que as fronteiras”



Ricardo Araújo Pereira, Humorista



Poema para Eusébio, de Manuel Alegre


"Havia nele a máxima tensão
Como um clássico ordenava a própria força
Sabia a contenção e era explosão
Não era só instinto era ciência
Magia e teoria já só prática
Havia nele a arte e a inteligência
Do puro e sua matemática
Buscava o golo mais que golo-
só palavra
Abstracção
ponto no espaço
teorema
Despido do supérfluo rematava
E então não era golo
Era poema"

Uma Tragédia, de Miguel Esteves Cardoso, in Jornal Público, 5 de Janeiro de 2014


Primeiro, não se acredita. Eusébio morto? Como é que pode ser? Depois acredita-se e amaldiçoa-se o azar de Eusébio e da família dele por ele ter morrido tão cedo.Percebe-se que Eusébio já era um imortal há muito tempo e que, nesse sentido heróico, continua tão vivo como antes. Foi uma imortalidade que ele criou, jogada a jogada, de jogo em jogo, ano após ano, de golo em golo.Mas Eusébio faz falta. Ele era um sábio e um benfeitor, um monumento vivo que falava com as pessoas e vivia como elas, no meio da gente. Era a última grande figura de Lisboa.Os portugueses nem sempre trataram Eusébio com o respeito e a gratidão que ele não só merecia como tinha conquistado, apesar de ter enfrentado obstáculos formidáveis.Eusébio era um senhor a jogar e era um senhor na vida. As grandes qualidades dele como futebolista - a inteligência, a imaginação, a solidariedade, a elegância e a audácia - nunca mais se juntaram num só jogador. Mas continuaram sempre na pessoa de Eusébio, ao lado de fraquezas que todos nós temos, provando que ele era humano.É uma grande tristeza Eusébio não ter vivido mais anos de felicidade e de exemplo. São muitas as pessoas, de todas as idades e de todas as profissões, cujas vidas vão piorar por Eusébio já cá não estar.A morte de Eusébio é uma tragédia. As tragédias choram-se. Não se celebram. A imortalidade já era dele. Não serve de consolação nenhuma. Era imortal e bem vivo que te queríamos, querido Eusébio.Obrigado por tudo o que nos deste, a começar por ti.










«Na China, a morte de Eusébio teve um impacto muito grande devido à popularidade que o futebol tem cada vez mais no país, e em particular o futebol português devido sobretudo a Cristiano Ronaldo e José Mourinho. Recebemos instruções do ministério, que foram dirigidas a todas as embaixadas, para abrir um livro de condolências. 



Houve afluência de embaixadas europeias e de países expressão portuguesa, alguns embaixadores que tiveram passado no futebol amador não quiseram deixar de se associar. A Associação Chinesa de Futebol, que veio em representação do Governo chinês, enviou uma carta à Federação Portuguesa de Futebol que, entretanto, fizemos chegar ao presidente», acrescentando que também na imprensa chinesa a morte de Eusébio teve muito impacto.

Eduardo Ramos, ministro conselheiro da embaixada portuguesa na China



«Dizem que morreu o Rei Eusébio. Como se isso fosse possivel»

Bernardo Silva, Jogador Sport Lisboa e Benfica





“A vida de Eusébio é patrimônio de todos aqueles que amam o futebol. O Sport Lisboa e Benfica foi o seu porto de abrigo, mas o Benfica teve em Eusébio um profissional incansável, alguém que sempre fez do Benfica muito mais do que o seu clube, mas antes a sua casa e a sua família”


Sport Lisboa e Benfica, em Comunicado oficial







«Quero, desde a Malásia, enviar as minhas mais sentidas condolências a toda a família de Eusébio e aos adeptos benfiquistas, com todo o meu respeito e admiração. É uma grande perda para todos. Foi sempre uma pessoa cordial e amável comigo. Com as suas palavras sempre evidenciou sabedoria e compreensão», disse Pablo Aimar.

Pablo Aimar, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica





«Agradeço a homenagem que todos os meios de comunicação social fizeram a Eusébio. Ambos somos portugueses e Portugal sentiu o carinho de Espanha e do Mundo. Os dois golos que marquei foram para ele. Eusébio era uma pessoa muito próxima, ajudou-me muito e sempre esteve connosco na Seleção. Ontem foi um dia triste», 
«Para sempre eterno Eusébio, descansa em paz»

Cristiano Ronaldo, Jogador Português











«O Eusébio não morreu. Ganhou a eternidade»

João Malheiro, comentador/Jornalista



«Foi o melhor jogador de futebol de todos os tempos»

Di Stefano, Ex-jogador do Real Madrid(idolo de Eusebio)










«Ele foi o maior jogador da história do futebol Português»

Manuel José, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica




«R.I.P Eusébio. Pantera Negra. Benfica forever. Descansa em paz, Eusébio. Pantera Negra. Benfica para sempre»


Myke Tyson na rede social Twitter










«Foi uma pessoa muito importante e será eterno para todos os português e não só. Vamos tentar dar a melhor despedida possível. Nunca o vi jogar, mas do que privei com ele sei que tinha uma enorme qualidade humana e é um amigo que desapareceu»

Figo, Ex-jogador Português

Passei quatro anos no Benfica e pude testemunhar o que Eusébio representa para Portugal. Encontrei com ele algumas vezes e era sempre uma grande emoção, por tudo o que fez na história do clube e do futebol do país. Fiquei muito triste com a informação de sua morte e quero transmitir o meu sentimento para seus familiares e todos os torcedores benfiquistas»

Leo, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica





«O mais importante do que tudo o resto é prestar esta última e devida homenagem. É para mim um enorme prazer, apesar de não ter privado de muito perto com ele, ter estado com Eusébio ao serviço do Benfica e da seleção.»

Paulo Bento, Selecionador Nacional






«Fica um sentimento de emoção, ouvir os adeptos cantar pelo Rei que estará sempre no coração dos benfiquistas que muito devem aos momentos que Eusébio teve como jogador. Como pessoa, era de uma simplicidade e humildade que cativou todos os que conheceu. Mas também como chefe de família, como pai, é um exemplo. A melhor homenagem é continuar a recriar toda essa imagem que teve como pessoa»

«Partilhei alguns momentos antes de vir para o Benfica e apoiou-me muito ao longo destes cinco anos. Convidou-me para almoçar algumas vezes para me dizer que acreditava sempre em mim e no meu trabalho.»
«Como jogador, foi o expoente máximo da década de 60. Hoje, com a evolução dos meios de treino, seria atualmente aquilo que chamamos um jogador de outra galáxia. Os grandes jogadores são simples, humildes. Todos vão lembrá-lo como um símbolo do Benfica e de Portugal» 


Jorge Jesus, treinador do Sport Lisboa e Benfica

«Não o vi ao vivo, só a preto e branco, portanto é quase uma questão de fé acreditar que o Eusébio conseguia fazer aquilo que fazia. Ainda hoje vi algumas imagens e parece mentira um ser humano fazer aquele tipo de coisas», disse Ricardo Araújo Pereira, visivelmente emocionado e a tentar conter as lágrimas, considerando ainda que morrer aos 71 anos «é cedo para uma uma divindade».

«Quando as minha filhas nasceram mandei SMS para os meus amigos a dizer “já somos seis milhões mais um”, mas hoje sinto que não foi só um que morreu», acrescentou o comediante, revelando que Eusébio tornou a sua vida melhor:
- A minha vida é muito melhor por causa do Benfica e o Benfica é muito melhor por causa do Eusébio, portanto a minha vida é melhor por causa do Eusébio.


Ricardo 
Araújo PereiraHumorista



«Eusébio foi um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Eu tive a sorte de o conhecer pessoalmente. Ele impressionou-me, não só como futebolista, mas também como um ser humano com a sua história. Choramos com os nossos amigos da FPF a morte de uma lenda do futebol»






Wolfgang Niersbach, Presidente da Federacao Alemã










«Ainda era um jovem, foi um jogador de futebol de classe mundial. Era um homem muito bom e um ótimo companheiro. Era sempre um prazer estar com ele»


Franz Beckenbauer, Ex-jogador Alemão











«Eusébio foi o meu primeiro ídolo. Depois dele só tive mais dois, o Ayrton Senna e Tom Jobim. Com nove anos era do Benfica por causa do Eusébio, eu e o meu irmão»
«Era uma figura inigualável, um português de África que deu a conhecer Portugal em todo o mundo. Era um homem bom e muito humilde que nunca deixou de ter os pés na terra»

Rui Veloso, Musico Português



«Céu 1 - 0 Terra»
«O céu ganhou hoje uma grande estrela e nós cá na Terra perdemos todos com a partida do
Pantera Negra»,
«Descanse em paz, Eusébio»


Rui Costa, Ciclista Português

«Eusébio é Eusébio e é e foi o maior. Tinha uma dignidade fantástica e estou de alma e coração ligado a ele, com um profundo conhecimento de tudo o que ele fez desde que chegou a Portugal»

«Eusébio funciona como a estrela maior em termos nacionais e foi brilhante em todos os aspetos. Esta época agora é do Ronaldo, mas quem naqueles tempos tivesse feito o que ele fez, jamais se poderia esquecer»


Mario Wilson, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica

«Perdemos um grande atleta e um grande homem. Eusébio é um símbolo deste País», «os amigos são para a toda a vida mesmo que a morte nos separe».
«Como homem e como ser humano era uma pessoa extraordinária, quem sabe ainda mais extraordinário do que como jogador», 
grato por «ter visto de perto essa humildade e grandeza como pessoa»

Oceano, Ex-jogador do Sporting Clube de Portugal



«Lamento a morte do meu irmão Eusébio. Ficamos amigos na Copa de 66, em Inglaterra»
«Nosso último encontro foi no recente jogo entre Brasil e Portugal, em Boston. Meus pêsames a seus familiares. Que Deus o receba de braços abertos»


Pelé, Ex-jogador Brazileiro





«Fiquei muito triste. Não vi Eusébio a jogar, mas tive o prazer, quando representei o Benfica, de conviver com o King (era assim que o tratava) e o que guardo dele é a excelente pessoa que era. É uma grande perda para o nosso futebol e para Portugal, mas o King é eterno e estará para sempre vivo em cada um de nós»


Quim, Ex-jogador  do Sport Lisboa e Benfica






«É um momento triste para o futebol, não só para o português, pois Eusébio era uma estrela mundial. Felizmente ficará para sempre ligado à história do nosso futebol. Claramente era uma estrela que tivemos a felicidade de ter. Vamos revivê-lo com as memórias de um notável jogador e de uma grande pessoa. É um símbolo de Portugal.»

Pedro Emanuel, treinador do Arouca



«Quer no Benfica quer na Seleção Nacional Eusébio foi o símbolo que colocou o futebol português no panorama internacional. Faleceu um grande homem mas vai perdurar para sempre aquilo que ele simboliza.
Foi provavelmente o maior jogador do seu tempo e ele próprio não se assumia nessa posição. Um dos muitos atributos que tinha era o facto de assumir mais o peso da responsabilidade do que assumir para si a glória, tinha uma posição muito humilde.»


«O exemplo do Eusébio perdurará para sempre. Será o grande obreiro da nossa Seleção e do Benfica, no período em que foi jogador. Foi ele que colocou o futebol português no panorama mundial e felizmente temos conseguido mantê-lo assim. O Eusébio marca esta viragem na visibilidade que Portugal ganhou, personifica aquilo que somos hoje»


Mário FigueiredoPresidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP)


«Acabei por fazer a carreira que fiz porque o meu treinador era ele. Ele tinha um carinho muito grande por mim, nunca perdia a oportunidade de me dar um conselho e de me pedir para chutar à baliza»


«só a presença dele na Seleção e no Benfica era já um motivo de inspiração»
«Temos o maior orgulho que tenha representado este clube, mas este homem é de um país inteiro, é o símbolo máximo que o nosso País tem»
«O domingo sempre foi considerado o dia do futebol e ele acabou por escolher o domingo como o dia da sua partida.»



Rui Costa, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica





«Marco do futebol mundial e um grande exemplo como desportista»
«Recordo a forma como fui recebido pelo Eusébio quando cheguei ao Benfica ainda muito novo. Ele tinha essa característica, de saber receber os jovens e de lhes dar um abraço especial e os incentivar»


Humberto Coelho, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica








«Ele acompanhava-nos sempre na Seleção e pela sua simplicidade, humildade e por aquilo que representava, toda a gente o adorava. Para mim, e como já se disse, o Eusébio é eterno e imortal. Gostaria de mandar um abraço forte à família do Eusébio, do senhor Eusébio.»

Sergio Conceição, Treinador da Académica de Coimbra




«Tive a oportunidade de conviver muito tempo com o Eusébio, durante os sete anos em que defendi a seleção portuguesa. Fiz uma amizade e tinha muito carinho por ele. Tinha o respeito de todos na seleção e ajudava muito com sua experiência e seus conselhos. Sinto muito pelo falecimento dele»

Deco, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica







«Estarás sempre na nossa memória, Eusébio. Serás sempre o nosso campeão»


João Moutinho, Jogador do Monaco

«Tudo o que puder ser dito é pouco para dizer o que foi Eusébio. Foi um jogador e uma pessoa que elevou Portugal. Esta é uma justa homenagem que o País lhe está a fazer»

«Irá sempre ser recordado como o maior jogador de todos os tempos», acrescentou o antigo capitão do Benfica, que recordou Eusébio como «presença assídua no balneário». 
«Era uma pessoa que era líder, dava bons conselhos e transmitia a mística do Benfica»

Nuno Gomes, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica



«É um dia triste para todos os benfiquistas e para todos os que gostam, de futebol»
«Fico com grandes recordações dele, foi a pessoa que me recebeu foi um prazer ser apresentado por ele»
«Deu-me as boas vindas e falou da história que tem a camisola do Benfica, a grandeza do clube. Tudo o que precisasse podia contar com ele. Foi uma amigo que sempre teve uma palavra amiga e de incentivo», acrescentou Luisão revelando ter sido o pai a acordá-lo com a triste notícia.
«um ícone mundial», admirado «não só pelos benfiquistas, mas pelos também pelos rivais e em todo o mundo».

Luisão, Capitão do Sport Lisboa e Benfica





«Respeito para um homem que significou tanto para o desporto que eu tanto prezo. Eusébio, um dos maiores de todos os tempos, que descanse em paz»


Kompany, Jogador do Manchester City






«O São Paulo FC vem pela presente lamentar o falecimento, neste domingo, do ex-jogador Eusébio da Silva Ferreira, o "Pantera Negra", um dos mais importantes atletas da história do futebol mundial»
O clube relembra que teve a «honra» de participar a 3 de agosto de 2013 na Eusébio Cup e que, nesse mesmo dia, a direção do clube conviveu num almoço com Eusébio, família, antigos jogadores e dirigentes do Benfica, lamentando o facto de o São Paulo ter sido 
«Infelizmente o último clube a receber tal honra».
«Aos familiares, amigos e fãs desse grande craque, o São Paulo Futebol Clube rende as suas condolências»


Clube São Paulo do Brazil, em comunicado




«Um grande jogador nos deixou e quero agradecer a Eusébio por toda a grandeza e pelos lindos momentos que o seu futebol nos deu»


Ruud Gullit, Ex-jogador Holandês








«Sem dúvida que Eusébio foi um dos melhores jogadores com quem tive o privilégio de jogar. Era um verdadeiro desportista e provou-o ao aplaudir Alex Stepney pela sua defesa na final da Taça dos Campeões Europeus, em 1968», escreve Bobby Charlton.
«Os seus recordes de golos, pelo Benfica e no futebol, são incríveis e mantém-se ao longo do tempo. Encontrei-o em diversas ocasiões depois do final das nossas carreiras e sempre representou bem o seu clube e o seu país. Sinto-me orgulhoso por ter sido adversário e amigo e fiquei triste por saber que tinha falecido. Os meus pensamentos e orações estão com a sua família neste tempo difícil»

Sir Bobby Charlton, Ex-jogador Inglês





«Eusébio faleceu, uma notícia triste para todos. Era uma verdadeira lenda, um embaixador fantástico para o futebol, um cavalheiro. RIP Sir»


Peter Schmeichel, Ex-jogador do Sporting Clube de Portugal









«Foi um privilégio conhecer-te, KING. RIP. És rei em qualquer parte do Mundo»

Van Hooijdonk, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica




«Eusébio da Silva Ferreira foi um dos grandes símbolos do desporto mundial e de Portugal, tendo mesmo conseguido romper o isolamento a que Portugal se tinha condenado nos anos 60. Lisboa teve o privilégio de ter sido o palco principal da sua carreira»

«Eusébio é uma daquelas personalidades que perduram para lá dos tempos. Esta é uma hora de lhe manifestar tributo e gratidão, certo que a sua memória perdurará, continuando parte integrante do imaginário português»

António Costa, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa





«Descanse em paz, Eusébio Pantera, um dos maiores jogadores de futebol da história!»

Ronaldinho, Jogador Brazileiro









«O Eusébio foi um ídolo que criou toda a grandiosidade que o Benfica tem hoje em dia e não só. Se o Benfica é hoje o clube com maior massa adepta, deve-o também a Eusébio, não só como jogador, mas também como pessoa. Morreu hoje fisicamente, mas nunca vai morrer no coração dos benfiquistas, vai ser um mito no Benfica»
«Era um extraterrestre naquela altura, como hoje é Ronaldo ou Messi. Era um companheiro humilde, que gostava imenso de trabalhar, porque só assim se pode fazer do talento grandes jogadores fora do normal»

Jorge Jesus, Treinador do Sport Lisboa e Benfica



«Era um ídolo, foi com uma enorme tristeza que recebi a notícia. Há pouco tempo estivesse com ele, pareceu-me que estava de certa forma estabilizado... Como homem tive a felicidade de conviver durante muitos anos com ele, era de fácil acesso falávamos, de uma forma natural. Apoiava quem chegava, fui criado uma amizade com ele, discutíamos vários assuntos, ele aconselhava-me»

João Vieira Pinto, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica, e Diretor da Federação Portuguesa de Futebol







«Triste por saber da morte de Eusébio hoje. Foi um dos grandes do futebol e uma boa pessoa. Uma verdadeira lenda»


David Beckham, Ex-jogador Inglês





«Vai continuar o mesmo símbolo e na memória de todos nós. Foi com tristeza que soube da notícia, conhecia-o desde os meus nove anos, nunca joguei com ele mas foi meu “mister” no Benfica. Partiu cedo de mais. Era um terror para os defesas adversários, pela raça, pela força interior e pelo querer. Fora do campo não era uma vedeta, nós é que o tratávamos como o Rei. Consegui concretizar um dos meus dois sonhos que era jogar no Benfica, não concretizei o segundo que era jogar com ele, mas foi ele que me explicou qual era a mística do Benfica» 
           
                                   
Antonio Veloso, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica






«A Pantera de Moçambique. RIP, Eusébio da Silva Ferreira (1942-2014)»
Diego Maradona, ex-jogador Argentino














«Sou do Porto, jurei que nunca punha os pés neste estádio mas esta manhã senti um impulso e vim. Eusébio é de todos, um símbolo de Portugal. Passei férias fora de Portugal e a primeira coisa que me disseram foi “Eusébio”. Hoje não há clubes, o Eusébio é de Portugal»

Adepto do Futebol Clube do Porto









«O Real Madrid lamenta o falecimento de Eusébio, um dos maiores jogadores de todos os tempos. O clube mostra condolências à família e amigos, ao Benfica e ao futebol português em geral»

Real Madrid, em comunicado Oficial



«Sporting Clube de Portugal manifesta o seu profundo pesar pelo falecimento de Eusébio da Silva Ferreira, um símbolo do desporto nacional. À família de Eusébio e amigos, o Sporting Clube de Portugal apresenta os seus sentidos pêsames»


Sporting Clube de Portugal, em comunicado





«Nunca estamos preparados para perder aqueles que nos são mais próximos, aqueles que por tudo o que fizeram, por tudo o que alcançaram, nos acostumamos a ver como imortais. Eusébio já tinha ganho em vida a sua condição de mito e por isso é que a notícia do seu desaparecimento mais choca, porque os mitos nunca deviam partir! Os 71 anos de Eusébio celebram o futebol, celebram o Benfica, celebram Portugal, mas trazem-nos à memória alguém que sempre teve um enorme prazer pela vida. É essa dedicação à vida que no dia de hoje devemos recordar! Tenho por Eusébio uma profunda gratidão, porque vivi algumas das tardes mais fantásticas da minha vida a vê-lo jogar. Tenho uma profunda gratidão, ainda, por tudo o que fez pelo Benfica e pelo futebol português, mas sou igualmente grato porque foi até ao fim dos seus dias, tão simples e tão genuíno como quando cá chegou vindo de Moçambique»


«Eusébio nunca morrerá porque o seu exemplo vai continuar bem presente entre nós. Felizmente, fomos a tempo de celebrar o seu talento e o seu legado em vida, com a Eusébio Cup e assim vamos continuar a faze-lo. Obrigado por tudo o que nos deste»


Luis Filipe Vieira, Presidente do Sport Lisboa e Benfica






«Não tive o prazer de ver-te jogar, mas tive o prazer de te conhecer e ver que também eras especial fora do campo! Que Deus o tenha, amigo!»

David Luiz, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica





«Eusébio era como se fosse meu filho»
«Sou suspeito para falar de Eusébio. Recebi-o de braços abertos em Portugal quando saiu de Moçambique. Fui responsável por ele ter ido para o Benfica e por ser aquilo que foi no futebol português. Estou triste, muito triste. Que Deus tenha a sua alma em paz.»


Mario Coluna, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica



«Portugal está de luto. Morreu, na madrugada deste domingo, vítima de paragem cardiorespiratória, Eusébio da Silva Ferreira, o King, rei dos Magriços de 1966 e eterno símbolo do País, da Seleção e do Benfica. Eusébio maravilhou o mundo do futebol na década de 60, com os expoentes máximos em 1962, na conquista da Taça dos Campeões pelo Benfica, e em 1966, com o terceiro lugar de Portugal no Mundial de 1966 e o título de melhor marcador da competição. À família enlutada e ao Benfica quer a Federação Portuguesa de Futebol, nesta hora difícil, expressar sentidos pêsames»

Federação Portuguesa de Futebol, em Comunicado oficial



«É uma das grandes figuras de Portugal. E significa para Portugal e para os portugueses, aquilo que significa uma pessoa importantíssima. Eusébio e Amália são grandes senhores de Portugal, continuo a vê-los nessa perspetiva. Acho que são imortais. Todos sabemos o que ele significa para o futebol e em especial para o futebol português»
«Não digo que tenha sido uma inspiração mas foi uma referência importante, naquilo que foi no futebol, em valores, princípios e sentimentos mesmo depois de terminar a sua carreira»

«deixa um vazio grande, mas prefiro vê-lo na perspetiva da imortalidade. Eusébio, numa geração completamente diferente, e se se tentasse fazer um paralelismo com o futebol de hoje, estaria ao nível daquilo que são os maiores jogadores de futebol. Se ele tivesse hoje 20 ou 30 anos seria uma coisa assombrosa.»

José Mourinho, Treinador Português de Futebol



«Eu sempre lhe disse, não tenhas pressa, tens que ser o último, não um dos primeiros. Ele sempre me ouviu, a cumplicidade era enorme, não aconteceu assim desta vez... Era um companheiro, um amigo, um jogador excepcional, tinha qualidades humanas às vezes desconhecidas. O país perdeu uma referência extraordinaria e eu perdi o meu amigo, um irmão»

António Simões, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica


«Foi com muito pesar que recebi esta notícia. Perdi um amigo, quando éramos jovens brincámos juntos, jogamos futebol juntos. Era quase alguém de família. O futebol português perdeu um dos seus pontos de referência. O futebol ligava Moçambique e Portugal. Eusébio era um orgulho para o povo moçambicano. Através do desporto, Eusébio era um dos embaixadores de Moçambique. Os feitos dele vão perdurar»

Joaquim Chissano, antigo presidente de Moçambique





«Já lhe disse quando era vivo muito daquilo que senti, o privilégio que foi ter jogado com ele, ter conhecido uma figura humana ímpar, é uma perda... para a familia benfiquista. É um dos maiores vultos do desporto português que nos deixa, e um amigo, fundamentalmente»

«Ele não foi príncipe, príncipes houve muitos, mas reis houve poucos. Ele está na galeria dos eleitos, era superdotado do ponto de vista físico, técnico, era uma estátua grega»

Toni, Ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica




Os jogadores do plantel principal do Benfica estavam de folga mas prescindiram, naturalmente, do dia de descanso. A despedida começou por volta das 13 horas: o plantel, incluindo a equipa técnica, deslocou-se ao Estádio da Luz para o primeiro adeus a Eusébio, quando o corpo se encontrava na junto à porta principal. 

De seguida, os jogadores deslocaram-se para a tribuna presidencial, onde assistiram à celebração do desejo do pantera negra, a volta ao estádio. Ao lado, muitos miúdos de todos os escalões de formação.

Ao mesmo tempo juntou-se o plantel da equipa B. Ou seja, todo o futebol profissional representado.





Eusébio comemorava o seu 70.º aniversário com uma festa na Luz que promete ficar na memória. Bem disposto, mas ainda algo debilitado (esteve internado devido a uma pneumonia bilateral e depois por uma cervicalgia, dores na coluna), Eusébio mostrou-se “ansioso” pelo dia que viria a ser preenchido com muitas emoções e recordações daquele que é o melhor jogador português de todos os tempos.
Dois pontos altos marcaram o dia do ‘King’. Primeiro, pelas 18h30, a apresentação da biografia da autoria do amigo João Malheiro, na Loja do Benfica, na Luz. Depois segue-se o jantar na Catedral da Cerveja.
Antigos companheiros do Benfica e da Selecção confirmaram presença assim como figuras ligadas à música como Rui Veloso e Xutos e Pontapés.
Rodeado da família.





Homenagem ao Rei Eusébio no estadio da Luz














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