Nós e que nos ajoelhamos para si Sr. "Monstro"
Nascimento: 1935-08-06
- 2014-02-25
Naturalidade: Lourenço
Marques, Moçambique
Posição: Médio
(Médio Centro)
Altura: 173
cm
Peso: 76
Kg
Internacionalizações
A: 57 jogos / 8 golos
Títulos: 24
títulos oficiais:
|
Relação dos jogos efectuados de águia ao peito:
TOTAL 523 46954 0 1 127
Clubes que representou: João Albasini (Moçambique), Desportivo de Lourenço Marques (Moçambique), Benfica e Olympique Lyonnais (França), como jogador. Benfica (camadas jovens), Estrela de Portalegre e Benfica de Huambo (Angola), como treinador.
Pessoa, a quem os mais proximos tratavam carinhosamente de "Monstro", Coluna era um homem muito
orgulhoso do seu passado futebolístico, nisso sendo um homem
aprazível e nada arrogante. Muito orgulhoso dos seus triunfos, do seu
enorme talento, de ter sido companheiro de quem foi (e falava com
relevo dos jogadores de então). Também de ter sido, ainda para
mais vindo das suas origens mescladas e moçambicanas, capitão do
Benfica e da selecção portuguesa. Era moçambicano, com prazer e
orgulho - quantas vezes resmungão, como cada um de nós no seu país.
Para além disso adorava, e de que maneira, o Sport Lisboa e Benfica.
O
verdadeiro poder de influência de Mário Esteves Coluna, o
certificado do prestígio que foi granjeando nos relvados ano após
ano. A voz
de comando de Coluna já ecoava nos bastidores do futebol. Ele, que
era descrito como um capitão de poucas palavras, que muitas vezes
nem precisava de abrir a boca para pôr a equipa em sentido. Ele, que
chegara a Lisboa como um jovem tímido e que havia seriamente
considerado voltar para Moçambique, depois de um período de
adaptação com altos e baixos.
Curiosidades
“Só
comecei a jogar futebol calçado aos 15 anos”, revelou há tempos
em declarações à Benfica TV. E fê-lo justamente no João
Albasini, que agrupava um conjunto diversificado de desportos.
“Quando era júnior, no Lourenço Marques, jogava de manhã nos
juniores e à tarde ia jogar nos seniores no João Albasini”,
recordou.
“Nunca
joguei nas reservas, nunca fui suplente, joguei nas selecções
todas”, enfatizou, com orgulho, perante as câmaras da Benfica TV.
Jaime
Graça, outra das figuras de proa do Benfica de então, atesta essa
versão: “Era ele que conduzia a forma de nós ocuparmos os espaços
no campo. ‘Vai mais à frente, miúdo, ou vem mais atrás’. Ele
levava o jogo todo a dar indicações”, assinalou.
Durante o Campeonato do Mundo, num episódio caricato que envolveu o seleccionador nacional. “Salvei o Otto Glória de ser expulso do banco. Houve uma jogada em que o árbitro marcou falta contra Portugal e o Otto Glória levantou-se do banco, foi até à linha e o árbitro foi ao nosso banco. E quando o vi a ir, fui atrás dele. Quando chego lá, o árbitro já estava a levantar o braço para expulsar o Otto Glória. Eu cheguei e bati no braço do árbitro e, no meu fraco inglês, disse: “Mr. Referee, I’m the captain of my team. I’m so sorry about my coach
“O treinador quando falava connosco na cabine dizia: ‘Vamos jogar assim, assim. Lá dentro do campo, quem manda é o Mário Coluna”.
Como jogador permanece na luz durante 16 temporadas, voltando mais tarde para trabalhar nos escalões de formação. Foi o primeiro treinador de Rui Costa no Sport Lisboa e Benfica.
Disputou um total de 677 jogos e marcou 150 golos de águia ao peito. Com 59.702 minutors é, ainda hoje, o segundo futebolista com mais tempo de jogo.
SL Benfica (Futebol > 1954/1955) | 32 | 2 880 | 0 | 0 | 17 |
SL Benfica (Futebol > 1955/1956) | 29 | 2 610 | 0 | 0 | 12 |
SL Benfica (Futebol > 1956/1957) | 29 | 2 610 | 0 | 0 | 7 |
SL Benfica (Futebol > 1957/1958) | 35 | 3 150 | 0 | 0 | 9 |
SL Benfica (Futebol > 1958/1959) | 34 | 3 060 | 0 | 0 | 13 |
SL Benfica (Futebol > 1959/1960) | 33 | 2 966 | 0 | 1 | 16 |
SL Benfica (Futebol > 1960/1961) | 35 | 3 150 | 0 | 0 | 8 |
SL Benfica (Futebol > 1961/1962) | 40 | 3 600 | 0 | 0 | 9 |
SL Benfica (Futebol > 1962/1963) | 40 | 3 600 | 0 | 0 | 5 |
SL Benfica (Futebol > 1963/1964) | 33 | 2 970 | 0 | 0 | 5 |
SL Benfica (Futebol > 1964/1965) | 42 | 3 780 | 0 | 0 | 12 |
SL Benfica (Futebol > 1965/1966) | 31 | 2 790 | 0 | 0 | 4 |
SL Benfica (Futebol > 1966/1967) | 23 | 2 070 | 0 | 0 | 2 |
SL Benfica (Futebol > 1967/1968) | 33 | 2 970 | 0 | 0 | 3 |
SL Benfica (Futebol > 1968/1969) | 35 | 3 038 | 0 | 0 | 4 |
SL Benfica (Futebol > 1969/1970) | 19 | 1 710 | 0 | 0 | 1 |
Clubes que representou: João Albasini (Moçambique), Desportivo de Lourenço Marques (Moçambique), Benfica e Olympique Lyonnais (França), como jogador. Benfica (camadas jovens), Estrela de Portalegre e Benfica de Huambo (Angola), como treinador.
No
arco-íris do futebol nacional, naquela primeira metade da década de
50, o verde era a tonalidade dominante. Vivia-se o tempo hegemónico
dos Cinco Violinos (Jesus Correia, Travaços, Peyroteo, Vasques e
Albano), que garantiram para o Sporting o primeiro tetracampeonato da
história. No Benfica, com saudade, recordava-se o titulo de 49/50 e
a vitória na Taça Latina, o primeiro grande feito do futebol
lusitano.
Nessa altura, em Lourenço Marque, no bairro do Alto Mahé, onde também cresceram Matateu, Vicente e Hilário, um adolescente começava a emergir nas lides de cariz desportivo. Mário Esteves Coluna, assim crismado foi. Filho de um português da Beira Baixa, aventureiro por terras africanas, que com uma negra de nome Lúcia casaria na capital da antiga África Oriental Portuguesa. O jovem Mário era um predestinado para a cultura física. Decerto, a destreza provinha-lhe da experiência acumulada a subir árvores, ainda petiz, na procura saborosa de mangas ou de caju. “Um dia cais, partes uma perna e vais parar ao hospital”, asseverava José Maria Esteves Coluna, o progenitor, que havia fundado e defendido as redes do Desportivo de Lourenço Marques, filial do Benfica.
Certo é que umas luvas de lutador, pertença de um amigo, fizeram as delicias do jovem Mário. Ainda na puberdade, experimentou o boxe, em combates pouco ortodoxos, sem regras coerentes, circunstância que bem poderá ter concorrido para o espírito combativo, matriz de toda uma vida. Por influência da trapeira, esse encanto dos pobres imberbes, foi Coluna jogar para a equipa João Albasini, albergue de muitos futebolistas de origem laurentina. Basquetebol praticou também, ainda que não tivesse passado da equipa de reservas do Desportivo. Mas foi no atletismo que Mário Coluna obteve, por essa altura, um notável registo. Para assombro de todos, estabeleceu recorde moçambicano de salto em altura, nuns muito estimáveis 1,825 metros, meio centímetro acima, pasme-se!, da marca com que Espírito Santo, outra grande figura do universo benfiquista, tinha destronado Pascoal de Almeida, na lista dos recordistas nacionais.
Ainda que a sua obsessão fosse profissionalizar-se como mecânico do automóveis, atentamente ouviu o conselhos de Severiano Correia, que nele encontrou talento suficiente para fazer uma carreira no futebol. É nessa altura que troca o Ferroviário pelo Desportivo, num apelo benfiquista que cedo, bem cedo, lhe havia provocado o imaginário.
Aos 17 anos, começou a jogar na equipa de honra da filial do Benfica. Todos os meses embolsava 500 escudos que, às escondidas dos pai, gastava em prazeres diversos. Nessa altura, o FC Porto ofereceu-lhe 90 contos, por um contrato de três temporadas. Reagiu o Sporting, sabedor da recusa de ingressar na equipa das Antas, adiantando a proposta de uma centena de contos, por contrato de três temporadas. A mesma oferta fez o Benfica. Respondeu com o coração, aquiesceu, de águia ao peito ficaria. Pouco tempo antes, já pontificava no Desportivo, coqueluche era, não jogou na África do Sul, que a tanto apartheid obrigava, mas vingou a derrota da sua equipa (2-1), em Lourenço Marques, num arrebatador 7-0, dia em que todos os golos marcou, como quem serve fria e até cruel vingança. Mandela, se é que soube, terá estrugido palmas. “Aterrei em Lisboa, após uma viagem que durou 34 horas. Dei a volta ao Mundo!”. Mas valeu a pena o esforço. De Moçambique, com destino ao Benfica, haviam já chegado, mas de barco, dias antes, Costa Pereira e Naldo. Era um tridente das paragens coloniais, resolutamente apostado, naquela época de 54/55, em devolver o Benfica à ribalta do futebol nacional.
Para além dos seus dois companheiros, Mário Coluna passou a trabalhar, no dia-a-dia, com Jacinto, Artur Santos, José Águas, Fernando Caiado, Francisco Calado, Ângelo, Palmeiro e Arsénio, entre outros. Ficou no Lar do Jogador, criação recente da direcção encarnada. “Mal cheguei, logo me quis ir embora. Vinha como craque, mas Otto Glória não contava comigo, não era titular. Para além disso, quiseram enganar-me no contrato. Meu pai sugeriu-me que voltasse, fiz as malas e só não regressei porque o mordomo do lar tinha ordem para me barrar a saída”.
Só que a bonança não tardou. E que bem ficou no Benfica! O brasileiro Otto apercebendo-se da incoexistência de Águas e Coluna, dois avançados-centro, transformou o moçambicano em centrocampista. Aposta ganha. De Otto, visionário. De Coluna, diletante. Do Benfica, revigorado.
Em Lisboa, o futuro Monstro Sagrado estreou-se frente ao FC Porto, na festa de Rogério e Feliciano. Mas foi com o Vitória de Setúbal, no pontapé de saída do Nacional de 54/55, que Mário Coluna, no palco do Jamor, marcou dois golos, no seu primeiro jogo oficial, para um robusto triunfo com chapa 5. “Deixou impressão lisonjeira. Habilidade, bons toques de bola, remate forte e fácil, e espírito de sacrifício. Um senão, somente: sua inevitável ingenuidade, leva-o a denunciar o passe provocando a intercepção ou o desarme”. Assim radiografou Vítor Santos o inaugural de 525 jogos com traje vermelho. “Nunca mais me esquecerei dessa época. Foi a minha primeira temporada pelo Benfica e ganhei tudo o que disputei (Campeonato e Taça de Portugal), sem esquecer que tive a honra de ser um dos jogadores que estrearam o Estádio da Luz”. E para a posteridade ficaria o registo de 17 golos apontados, o melhor em 16 anos quase sempre preenchidos por delicias garridas.
Mário Coluna deixou uma marca indelével no Benfica. Não fosse Eusébio, a quem carinhosamente trata por “afilhado”, por carinho e de facto, e talvez estivéssemos na presença do mais carismático jogador da centenária história encarnada. Capitão foi, naturalmente, de 63 a 70. Naquele jeito inconfundível de líder. Com voz baixa, mas ar severo. Granjeou respeito. Fez unanimidade.
Cinco finais europeias disputou. Nas duas primeiras, o Didi de Portugal, como era conhecido por terras de Vera Cruz, venceu e marcou golos, repositório afinal do seu dom de finalizador. E aquela terceira final, de má memória, frente ao Inter, tocado de forma vil por Trapattoni? Amputada ficou a equipa do seu maestro, interditas eram à época as substituições. Nesse dia, com estoicismo, aguentou até ao derradeiro e pesaroso silvo do árbitro, pouco mais fazendo que figura de corpo presente. Assim são os bravos, os campeões.
No Mundial de Inglaterra, capitaneou a turma das quinas. Eusébio esteve galvanizante, José Augusto, Torres e Simões deslumbraram. Ao lado de Jaime Graça, futuro reforço benfiquista, Mário Coluna pautou a intermediária, organizou o jogo. Com imponência. A ele se ficou a dever grossa fatia do sucesso das cores nacionais.
Dez
vezes lhe foi colocada a faixa de campeão nacional, sempre ao
serviço do seu Benfica. E mais sete Taças de Portugal ergueu. E
internacional foi, ininterruptamente, durante 35 partidas, entre
Dezembro de 1957 e Junho de 1965m fixando um recorde. E mais, muitas mais honrarias, com
destaque para a presença na selecção dos Resto do Mundo, em
Espanha, no Chamartin, ao lado de Rivera, Hamrin, Mazzola, Corso e
Burgnich, na homenagem ao grande Ricardo Zamora. Helenio Herrera, o
treinador, deu-lhe a braçadeira de capitão. Durante hora e meia
capitaneou o mundo do futebol. Sempre humilde, imagem de marca jamais
contestada.
A meio da época de 69/70, temporada fatídica para o Benfica, Otto Glória foi substituído por José Augusto no comando técnico da equipa principal. Para o antigo extremo, a hora era de renovação, de nada valendo que o magistral técnico Stefan Kovacs, nesse mesmo ano, tivesse dito que “o Benfica sem Coluna não é igual”. Ferido, despediu-se, não sem antes deixar um remoque a José Augusto, assim se traduz esse “acabei no Benfica quando era o melhor da defesa; sempre fui um jogador invejado”. O tempo passou e a ferida cicatrizou, o Benfica ganhou.
A 8 de Dezembro de 1970, o Monstro Sagrado recebeu os favores da plateia vermelha na festa do adeus. Com Cruijff, Djazic, Luís Suarez, Bobby Moore, Seeler, Hurst. Justo tributo ao grande capitão. À malvas mandou convites do FC Porto e do Belenenses, que em Portugal a paixão era rubra.
Nessa altura, em Lourenço Marque, no bairro do Alto Mahé, onde também cresceram Matateu, Vicente e Hilário, um adolescente começava a emergir nas lides de cariz desportivo. Mário Esteves Coluna, assim crismado foi. Filho de um português da Beira Baixa, aventureiro por terras africanas, que com uma negra de nome Lúcia casaria na capital da antiga África Oriental Portuguesa. O jovem Mário era um predestinado para a cultura física. Decerto, a destreza provinha-lhe da experiência acumulada a subir árvores, ainda petiz, na procura saborosa de mangas ou de caju. “Um dia cais, partes uma perna e vais parar ao hospital”, asseverava José Maria Esteves Coluna, o progenitor, que havia fundado e defendido as redes do Desportivo de Lourenço Marques, filial do Benfica.
Certo é que umas luvas de lutador, pertença de um amigo, fizeram as delicias do jovem Mário. Ainda na puberdade, experimentou o boxe, em combates pouco ortodoxos, sem regras coerentes, circunstância que bem poderá ter concorrido para o espírito combativo, matriz de toda uma vida. Por influência da trapeira, esse encanto dos pobres imberbes, foi Coluna jogar para a equipa João Albasini, albergue de muitos futebolistas de origem laurentina. Basquetebol praticou também, ainda que não tivesse passado da equipa de reservas do Desportivo. Mas foi no atletismo que Mário Coluna obteve, por essa altura, um notável registo. Para assombro de todos, estabeleceu recorde moçambicano de salto em altura, nuns muito estimáveis 1,825 metros, meio centímetro acima, pasme-se!, da marca com que Espírito Santo, outra grande figura do universo benfiquista, tinha destronado Pascoal de Almeida, na lista dos recordistas nacionais.
Ainda que a sua obsessão fosse profissionalizar-se como mecânico do automóveis, atentamente ouviu o conselhos de Severiano Correia, que nele encontrou talento suficiente para fazer uma carreira no futebol. É nessa altura que troca o Ferroviário pelo Desportivo, num apelo benfiquista que cedo, bem cedo, lhe havia provocado o imaginário.
Aos 17 anos, começou a jogar na equipa de honra da filial do Benfica. Todos os meses embolsava 500 escudos que, às escondidas dos pai, gastava em prazeres diversos. Nessa altura, o FC Porto ofereceu-lhe 90 contos, por um contrato de três temporadas. Reagiu o Sporting, sabedor da recusa de ingressar na equipa das Antas, adiantando a proposta de uma centena de contos, por contrato de três temporadas. A mesma oferta fez o Benfica. Respondeu com o coração, aquiesceu, de águia ao peito ficaria. Pouco tempo antes, já pontificava no Desportivo, coqueluche era, não jogou na África do Sul, que a tanto apartheid obrigava, mas vingou a derrota da sua equipa (2-1), em Lourenço Marques, num arrebatador 7-0, dia em que todos os golos marcou, como quem serve fria e até cruel vingança. Mandela, se é que soube, terá estrugido palmas. “Aterrei em Lisboa, após uma viagem que durou 34 horas. Dei a volta ao Mundo!”. Mas valeu a pena o esforço. De Moçambique, com destino ao Benfica, haviam já chegado, mas de barco, dias antes, Costa Pereira e Naldo. Era um tridente das paragens coloniais, resolutamente apostado, naquela época de 54/55, em devolver o Benfica à ribalta do futebol nacional.
Para além dos seus dois companheiros, Mário Coluna passou a trabalhar, no dia-a-dia, com Jacinto, Artur Santos, José Águas, Fernando Caiado, Francisco Calado, Ângelo, Palmeiro e Arsénio, entre outros. Ficou no Lar do Jogador, criação recente da direcção encarnada. “Mal cheguei, logo me quis ir embora. Vinha como craque, mas Otto Glória não contava comigo, não era titular. Para além disso, quiseram enganar-me no contrato. Meu pai sugeriu-me que voltasse, fiz as malas e só não regressei porque o mordomo do lar tinha ordem para me barrar a saída”.
Só que a bonança não tardou. E que bem ficou no Benfica! O brasileiro Otto apercebendo-se da incoexistência de Águas e Coluna, dois avançados-centro, transformou o moçambicano em centrocampista. Aposta ganha. De Otto, visionário. De Coluna, diletante. Do Benfica, revigorado.
Em Lisboa, o futuro Monstro Sagrado estreou-se frente ao FC Porto, na festa de Rogério e Feliciano. Mas foi com o Vitória de Setúbal, no pontapé de saída do Nacional de 54/55, que Mário Coluna, no palco do Jamor, marcou dois golos, no seu primeiro jogo oficial, para um robusto triunfo com chapa 5. “Deixou impressão lisonjeira. Habilidade, bons toques de bola, remate forte e fácil, e espírito de sacrifício. Um senão, somente: sua inevitável ingenuidade, leva-o a denunciar o passe provocando a intercepção ou o desarme”. Assim radiografou Vítor Santos o inaugural de 525 jogos com traje vermelho. “Nunca mais me esquecerei dessa época. Foi a minha primeira temporada pelo Benfica e ganhei tudo o que disputei (Campeonato e Taça de Portugal), sem esquecer que tive a honra de ser um dos jogadores que estrearam o Estádio da Luz”. E para a posteridade ficaria o registo de 17 golos apontados, o melhor em 16 anos quase sempre preenchidos por delicias garridas.
Mário Coluna deixou uma marca indelével no Benfica. Não fosse Eusébio, a quem carinhosamente trata por “afilhado”, por carinho e de facto, e talvez estivéssemos na presença do mais carismático jogador da centenária história encarnada. Capitão foi, naturalmente, de 63 a 70. Naquele jeito inconfundível de líder. Com voz baixa, mas ar severo. Granjeou respeito. Fez unanimidade.
Cinco finais europeias disputou. Nas duas primeiras, o Didi de Portugal, como era conhecido por terras de Vera Cruz, venceu e marcou golos, repositório afinal do seu dom de finalizador. E aquela terceira final, de má memória, frente ao Inter, tocado de forma vil por Trapattoni? Amputada ficou a equipa do seu maestro, interditas eram à época as substituições. Nesse dia, com estoicismo, aguentou até ao derradeiro e pesaroso silvo do árbitro, pouco mais fazendo que figura de corpo presente. Assim são os bravos, os campeões.
No Mundial de Inglaterra, capitaneou a turma das quinas. Eusébio esteve galvanizante, José Augusto, Torres e Simões deslumbraram. Ao lado de Jaime Graça, futuro reforço benfiquista, Mário Coluna pautou a intermediária, organizou o jogo. Com imponência. A ele se ficou a dever grossa fatia do sucesso das cores nacionais.
![]() |
Jose Torres, Jacinto, Eusebio e Mario Coluna - 1968 |
A meio da época de 69/70, temporada fatídica para o Benfica, Otto Glória foi substituído por José Augusto no comando técnico da equipa principal. Para o antigo extremo, a hora era de renovação, de nada valendo que o magistral técnico Stefan Kovacs, nesse mesmo ano, tivesse dito que “o Benfica sem Coluna não é igual”. Ferido, despediu-se, não sem antes deixar um remoque a José Augusto, assim se traduz esse “acabei no Benfica quando era o melhor da defesa; sempre fui um jogador invejado”. O tempo passou e a ferida cicatrizou, o Benfica ganhou.
A 8 de Dezembro de 1970, o Monstro Sagrado recebeu os favores da plateia vermelha na festa do adeus. Com Cruijff, Djazic, Luís Suarez, Bobby Moore, Seeler, Hurst. Justo tributo ao grande capitão. À malvas mandou convites do FC Porto e do Belenenses, que em Portugal a paixão era rubra.
Coluna acabaria por partir rumo ao Olympique Lyon, pelo qual
cumpriria mais duas temporadas, para regressar mais tarde a Portugal,
concretamente ao Estrela de Portalegre. No Alentejo, desempenharia as
funções de jogador-treinador no clube que assistiu ao adeus
definitivo ao futebol.
O
regresso a África, às origens, foi o passo seguinte de um homem que
se preocupava com o desporto para lá do rectângulo de jogo. Chegou
a ser deputado pela Frelimo e presidente da Federação
Moçambicana de Futebol, acabando também por criar uma academia.
Afinal de contas, tinha sido a modalidade que o tinha colocado nas
bocas do mundo. O futebol, é verdade, proporcionou-lhe uma carreira.
Coluna devolveu a cortesia oferecendo-lhe um nome para a eternidade.
Texto:
Memorial Benfica, 100 Glórias
Mário
Coluna, o grande jogador, o Monstro Sagrado. Nunca o vimos jogar, apenas
breves excertos de arquivo televisivo. Outros poderão falar sobre o
antigo capitão do Benfica e da selecção portuguesa, bi-campeão
europeu e eterno campeão português, jogador do outro mundo reza a
lenda, e acredito totalmente nela, sobre a sua carreira de
treinador e dirigente desportivo. Ficou também um livro, sua
biografia,
da autoria de Renato Caldeira (publicada em 2003 em Maputo)
E
ele, com aquele sorriso cheio, que lhe era tão próprio, aquela voz
cava, contava mais. Às vezes deixava escapar alguma mágoa, podia
ter sido milionário, o dinheiro que lhe ofereciam os grandes clubes
italianos teria dado para comprar prédios na Av. de Roma,
confidenciava - e na época esse teria sido um investimento certo.
Mas o Benfica não deixara, Salazar não deixara.

"Carregador
de piano", "Monstro sagrado" ou simplesmente
"Capitão". Não faltaram alcunhas para classificar Mário
Coluna durante os 16 anos que passou no Estádio da Luz, rodeado de
estrelas do futebol e, sobretudo, de elogios e palavras de
reconhecimento. Ele era o patrão do meio-campo, o maestro, o motor
da versão mais gloriosa de um Benfica que surpreendeu a Europa. E de
uma selecção que fez furor no Mundial de 1966. No discurso de Artur
Correia, que com ele conviveu no início da década de 1970, Coluna
era, acima de tudo, “uma instituição”.
Curiosidades
![]() |
Coluna, Charlie Mitten e Eusebio |
Durante o Campeonato do Mundo, num episódio caricato que envolveu o seleccionador nacional. “Salvei o Otto Glória de ser expulso do banco. Houve uma jogada em que o árbitro marcou falta contra Portugal e o Otto Glória levantou-se do banco, foi até à linha e o árbitro foi ao nosso banco. E quando o vi a ir, fui atrás dele. Quando chego lá, o árbitro já estava a levantar o braço para expulsar o Otto Glória. Eu cheguei e bati no braço do árbitro e, no meu fraco inglês, disse: “Mr. Referee, I’m the captain of my team. I’m so sorry about my coach
“O treinador quando falava connosco na cabine dizia: ‘Vamos jogar assim, assim. Lá dentro do campo, quem manda é o Mário Coluna”.
Como jogador permanece na luz durante 16 temporadas, voltando mais tarde para trabalhar nos escalões de formação. Foi o primeiro treinador de Rui Costa no Sport Lisboa e Benfica.
Disputou um total de 677 jogos e marcou 150 golos de águia ao peito. Com 59.702 minutors é, ainda hoje, o segundo futebolista com mais tempo de jogo.
Mário Coluna foi um desses privilegiados que nascem para o futebol, graças ao talento inato, ao temperamento infatigável e a uma condição física naturalmente robusta, qualidades que soube ainda acrescentar essa raro condão de simpatia pessoal e conquista de um prestígio que fez dele titular indiscutível na nossa equipa de honra. Um futebolista digno das tradições do Clube e da gloriosa camisola rubra. Um jogador à Benfica!
PRIMEIRO JOGO
SL Benfica 5 X 0 V. Setúbal
12
Set 1954
Campeonato
Nacional
Equipa
inicial: Costa Pereira, Ângelo Martins, Artur Santos, Naldo,
Jacinto, Francisco Calado, Fernando Caiado, Coluna, José Águas,
Arsénio, Salvador Martins
Treinador: Otto
Glória
Golos: Coluna,
Coluna, José Águas, Arsénio, Salvador Martins
ULTIMO JOGO
SL Benfica 0 X 1 CUF
08
Fev 1970
Campeonato
Nacional
Equipa
inicial: José Henrique, Adolfo, Jacinto, Humberto Coelho,
Coluna, Jaime Graça, Toni, Simões, Eusébio, Abel Miglietti, Artur
Jorge
Treinador: Otto
Glória
Até sempre, "Monstro Sagrado"
Até sempre, "Monstro Sagrado"
Espero que o grande Coluna se tenha sentido honrrado pela época que o Glorioso lhe ofereceu no ano da sua despedida!
ResponderEliminarLendas destas não mais surgirão no nosso clube!
Que história incrivel de vida!
Sempre presente no nosso pensamento!
Obrigado Mário Coluna!